A economia portuguesa terá um “abrandamento expressivo” em 2023 e deverá registar um crescimento pouco acima de 1%.
As previsões foram avançadas esta quinta-feira pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP), que antecipa uma forte travagem no próximo ano, com o Produto Interno Bruto a passar de 6,7% este ano para 1,2% em 2023.
É uma consequência das pressões inflacionistas, que vão afetar o consumo das famílias e a atividade das empresas. Este ano a inflação deverá fixar-se nos 7,7% e espera-se um abrandamento gradual nos anos seguintes, mas em 2023 ainda estará em 5,1%.
Ainda segundo o relatório das Perspetivas Económicas e Orçamentais 2022-2026, divulgado esta quinta-feira, o emprego deverá desacelerar, de 1,9% para 0,2% no próximo ano.
Já a taxa de desemprego deverá continuar a descer, chegando a 5,3% da população ativa em 2023.
Como a inflação está a beneficiar Estado e Governo
Esta inflação esperada está a “beneficiar as contas públicas no curto prazo”, segundo o gabinete liderado por Nazaré Cabral.
O défice foi revisto em baixa este ano, em três décimas, para 1,3%. Contas que já incluem o aumento da receita graças à inflação e as medidas adicionais de apoio à economia.
Com a reversão automática das medidas agora anunciadas para ajudar famílias e empresas, o saldo para 2023 deverá atingir um “excedente de 0,1% do PIB”. Mas se parte das medidas continuar em vigor, a projeção do Conselho das Finanças aponta para um défice de 0,4%. Ainda assim, a perspetiva é de uma “posição orçamental globalmente equilibrada” para o próximo ano.
Na apresentação das previsões, a presidente do CFP, Nazaré Cabral, sublinha a ideia de que "esta escalada inflacionista pode até ter um impacto favorável nas contas públicas".
"Ao longo do ano estamos a ter um aumento muito significativo da cobrança da receita fiscal e das contribuições da Segurança Social, e a despesa não tem crescido ao mesmo ritmo. Já para o ano de 2023, a projeção aponta para a continuação da melhoria do saldo orçamental, com um pequeno excedente de 0,1% do PIB”, sublinha.
Economia ameaçada por vários riscos: TAP, Novo Banco, PRR
Todas estas contas têm por base um cenário marcado por muita incerteza. Basta a Rússia interromper por completo o abastecimento de gás à Europa, o que “não poderá ser descartado”, para a inflação disparar de novo. Outro risco é o reforço das medidas covid-zero na China, que prolonga os constrangimentos na produção e distribuição a nível global.
Portugal é ainda penalizado pela possibilidade de recessão nos principais parceiros comerciais, que afeta não só as exportações mas também o turismo.
Mais diretamente, o aumento da inflação pode levar a “atrasos adicionais” na execução do PRR, já afetado pelo aumento nos preços de investimento.
As contas públicas podem ainda ser afetadas através das linhas de crédito com garantia estatal, caso os devedores entrem em incumprimento; a TAP pode vir a necessitar de apoios adicionais e o dinheiro já injetado pode vir a ter um impacto superior nas contas nacionais; o Novo Banco pode vir a utilizar o remanescente, 485 milhões de euros, ainda disponíveis ao abrigo do Acordo de Capitalização Contingente; as pensões podem aumentar o peso na despesa corrente primária; os privados querem ser compensados nas PPP.
Além de todos estes riscos, o Governo também não pode descartar a necessidade “de apresentar novas medidas de resposta à crise energética e ao aumento dos preços, ou prolongar as já existentes”, lembra o relatório. Além de eventuais respostas a novas variantes da Covid-19.