População de Beja preocupada com falta de médicos no hospital. “Poder central esqueceu o baixo Alentejo”
21-01-2022 - 21:09
 • Rosário Silva

A falta de condições no hospital de Beja, levou à demissão de uma dúzia de chefes de equipa de Medicina Interna da Urgência. Estão em funções, mas demissionários. Atentos, os bejenses continuam apreensivos.

Apesar da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA) ter garantido que vai tentar resolver os problemas que levaram à demissão de 12 chefes de equipa das urgências, na capital do baixo Alentejo, a população continua preocupada.

À Renascença, Susana Maldonado, não esconde ter ficado “extremamente preocupada” logo que foi conhecida a posição dos profissionais de saúde.

“Nós somos o maior distrito do país, o hospital já é pouco para dar resposta a toda esta área que é o baixo Alentejo, e agora com a situação que aconteceu, é preocupante”, afirma, apesar de considerar que “os médicos fizeram bem chamar a atenção, se não têm condições para trabalhar”.

A comerciante reconhece que a “pandemia veio agravar” a situação, embora o problema “não seja de agora, “vem muito de trás”, atribuindo as culpas ao “poder central que se esqueceu de Beja e do baixo Alentejo”, ao longo dos anos e “continua a esquecer-se”.

Eduardo Arsénio reside em Beja desde 1979. Já com alguma idade afirma que a situação “é preocupante para todos” e avança com uma explicação para justificar a demissão dos médicos.

“A gente não tem falta de médicos, nem de enfermeiros, mas se estamos assim, podemos agradecer à pandemia. Eles não conseguem dar conta, nem de uma coisa, nem de outra”.

Para o reformado, se “a pandemia acabasse hoje, amanhã tínhamos médicos e enfermeiros para todos, mas com esta crise, eles têm que se dividir, uns para um lado, outros para o outro”, acrescenta Eduardo Arsénio.

Menos indulgente é Mariana Garcia. “Eu sou muito doente e não estou de acordo com o que os médicos fizeram pois trato-me no hospital”, refere.

Com 65 anos, a reformada desfia um rol de doenças, ao mesmo tempo que vai dizendo que “eles não deviam fazer isto porque a gente precisa deles sempre”.

Na verdade, a população continua a poder contar com os profissionais de saúde.

“A população pode ficar descansada que nós vamos continuar a trabalhar, os médicos vão continuar a trabalhar, e todos os serviços vão ficar assegurados”, garante, à Renascença, José Aníbal Soares, o diretor clínico de Cuidados Hospitalares da ULSBA.

Também membro do Conselho de Administração, o responsável compreende as preocupações dos utentes, lembrando que “estamos aqui e trabalhamos para o doente”, apesar de reconhecer que, por vezes, estes profissionais “querem e precisam de outras respostas”.

“Chegámos aqui, muito por causa destes dois anos de pandemia. Os médicos da Medicina Interna foram os mais fustigados”, refere, reconhecendo que a falta de recursos humanos, uma das queixas, “está na base de todo este desgaste”.

José Aníbal Soares reconhece “o esforço e dedicação” dos últimos meses e compreende que “chegue uma altura, isso eu percebo, que se atinge um grande desgaste”.

Por isso, a ULSBA avança com um grupo de trabalho, que integra os chefes de equipa do Serviço de Urgência do Hospital José Joaquim Fernandes, de Beja, para “normalizar procedimentos e fazer regulamentos”.

Uma, entre outras medidas, anunciada esta semana, depois da reunião que juntou a administração da ULSBA, a presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo e os chefes de equipa das urgências que tinham apresentado a sua demissão.