Madre Teresa de Calcutá vai ser canonizada no dia 4 de Setembro, anunciou o Papa Francisco esta terça-feira durante o consistório ordinário convocado em Roma para votar cinco causas de canonização. A partir dessa data será elevada aos altares como santa da Igreja Católica.
A data não foi escolhida ao acaso, já que é o dia da morte de Madre Teresa. A jornalista da Renascença Aura Miguel esteve no funeral em Calcutá em 1997, e recorda “uma experiencia absolutamente inesquecível e que significava a própria personalidade daquela mulher”.
“O que testemunhei”, lembra, “foi que Calcutá saiu para rua para prestar homenagem a esta ‘santa’, já que quando ela morreu já tinha fama de santidade e, inclusivamente, o próprio Estado da Índia reconheceu essa santidade, esse serviço aos mais pobres, e organizou um funeral de Estado”.
Existe uma esperança por parte da Igreja indiana de que a canonização seja feita justamente em Calcutá, no meio dos pobres que Madre Teresa tanto amava e que o Papa Francisco também, mas as fontes do Vaticano não o confirmam. Também se considera a hipótese de o Papa integrar uma etapa ou uma espécie de escala na Arménia antes ou depois de vir da Índia, mas ainda nada está confirmado.
A freira albanesa laureada com o prémio Nobel dedicou a sua vida aos mais pobres dos mais pobres e vai ser canonizada pela Igreja Católica depois da aprovação de Francisco, que reconheceu a cura de um homem que sofria de vários tumores cerebrais. As provas testemunhais durante o processo de estudo do caso referem que as pessoas próximas do doente rezaram muito a Madre Teresa, de quem a respectiva esposa era especialmente devota.
Madre Teresa morreu com 87 anos e era conhecida como "a santa das sarjetas" pelo trabalho que desenvolveu em Calcutá. Não foi ainda divulgado se a cerimónia de canonização terá lugar em Roma ou na Índia.
Além de Madre Teresa, são assinados esta terça-feira os decretos para a canonização de Estanislau de Jesus Maria da Polónia (1631-1701), fundador da Congregação dos Marianos da Imaculada Conceição da Beatíssima Virgem Maria; José Sánchez del Río, mexicano (1913-1928), martirizado aos 14 anos durante a perseguição religiosa no México; José Gabriel del Rosario Brochero (1840-1914), conhecido como o ‘Cura Brochero’, que percorreu a Argentina numa mula para levar a mensagem do Evangelho no século XIX; a sueca Maria Elisabeth Hesselblad (1870-1957), fundadora da Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida.
Uma mulher apaixonada
O confessor de Madre Teresa esteve em Lisboa em 2012, altura em que, em entrevista à Renascença, fez uma descrição da mulher heróica e explicou o processo para a causa de canonização.
O sacerdote canadiano Brian Kolodiejchuk conheceu Madre Teresa de Calcutá no final dos anos 70 quando se juntou a um grupo de contemplativos que a freira tinha acabado de fundar. Acabou por integrar também o ramo sacerdotal da ordem dos Padres Missionários da Caridade e tornou-se confessor e confidente da superiora.
Tendo-a conhecido tão profundamente, não duvidou em descrevê-la como uma mulher apaixonada: “Uma breve descrição de Madre Teresa pode ser de uma mulher fortemente apaixonada por Jesus. Considerava-se esposa de Jesus. Pude constatar isso em 20 anos de convívio com ela."
"Ela vivia mesmo este amor apaixonado por Jesus e agora descobrimos que o viveu de modo puro e despojado, ou seja, estava tão profundamente unida a ele que ele partilhou com ela a sua dor e sofrimento", lembrou.
Inés Gonxha Bojaxhiu, nome de Madre Teresa, nasceu a 26 de Agosto de 1910 em Skopje, capital da actual república da Macedónia, no seio da comunidade albanesa, e foi beatificada em 2003 depois de o Vaticano ter reconhecido como um milagre a cura de um tumor no abdómen de uma mulher indiana depois de colocar um medalhão com uma foto da freira.
Durante meio século levou a cabo um trabalho social em Calcutá com as Missionárias da Caridade, a congregação que fundou depois de uma experiência mística e, em 1979, foi distinguida com o Nobel da Paz.
As Missionárias da Paz contam hoje com cerca de 4.500 religiosas que trabalham em mais de 130 países, onde têm 710 casas para assistir os mais pobres e doentes.