lsabelle Christina, tem 19 anos e lidera um projeto solidário, a decorrer no Brasil, que pretende cativar jovens desfavorecidos entre 10 a 24 anos, a partir do sexto ano do ensino, que queiram abraçar um processo de autodesenvolvimento e que ganhem gosto pela formação em nome de um futuro melhor para eles e para as famílias.
Foi uma das convidadas das conferências do Estoril dedicadas ao tema “reequilibrar o mundo por um amanhã melhor” e em entrevista à Renascença contou que foi aos 13 anos que decidiu fazer alguma coisa para melhorar o mundo, mas acima de tudo para mudar as dificuldades dos jovens, que como ela viviam, e vivem, na periferia de São Paulo, no Brasil.
“Eu era sempre exceção, sempre a única menina negra, a única menina periférica, e isso começou a incomodar-me. Aos 13 anos, no meu primeiro intercâmbio, eu era mais uma vez a única e dessa vez fiquei indignada e isso motivou-me a fazer alguma coisa. Aprendi com minha mãe a ser persistente”.
Em 2017, com a ajuda da mãe definiu o mote para a aventura que ainda hoje dura “transformar a realidade de jovens, despertando seu pleno potencial, por meio da Educação, Empreendedorismo e Empoderamento Social” e criou o Instituto das Meninas Negras que trabalha com 120 jovens. O sonho é até 2030 trabalhar com meio milhão de jovens e para fazer isso acontecer é preciso angariar empresas e empreendedores interessados financeiramente no projeto.
Através da tecnologia incentiva meninas negras da periferia a estudar e a candidatarem-se a bolsas em colégios particulares da cidade, tal como ela fez. Para isso, além do incentivo e do exemplo, Isabelle Christina distribui lista de escolas e de sites para estudo por conta própria, fala com os jovens e procura-os, entre outras coisas. Um projeto dirigido a meninas conta já também com rapazes que se quiseram juntar.
Ela própria com a ajuda da internet, aprendeu inglês sem auxílio de um professor e passou a estudar sobre a condição da mulher negra no Brasil.
“Procuramos desenvolver competências de trabalho em equipa, na àrea da inovação e cooperação para que elas tenham uma visão empreendedora. Se vão, ou não, trabalhar como empreendedoras não se sabe mas a mente empreendedora pode gerar muitos frutos” .
Nesta altura as empresas que colaboram com a ONG são brasileiras, ainda não se verificou a entrada de empresas internacionais e essa é também uma ambição desta jovem.
“A questão racial é uma luta, há muito racismo ainda, há muita falta de oportunidades e a periferia tem na sua maioria meninas negras, que sofrem muito, daí o nome do instituto”, explica Isabelle.
Ao olhar para trás conta-nos que “Coisas incríveis aconteceram. Meninas que chegaram ao projeto em situação de analfabetismo funcional hoje trabalham em grandes empresas de tecnologia, viajam a representar marcas. Temos casos de jovens que hoje frequentam MBA em Nova York ou têm bolsa num dos melhores colégios particulares da cidade.
Acredita que o projeto vai crescer, “vejo que as pessoas estão abertas ao tema. vivemos num mundo onde toda a sociedade está a ser revolucionada pela revolução digital, mas se olharmos para quem serão os profissionais, não temos muitos, porque a educação nesta área ainda falha. O que fazemos é mostrar a importância de educar e mostrar que a partir dessa oportunidade as pessoas se transformam em empreendedores e inovam, transformam a realidade individual e das famílias, trazem inovação para outros contextos também. Enquanto estas pessoas não existirem não conseguimos ultrapassar muitos dos problemas”.
Nestas declarações à Renascença Isabelle mostra-se triste com o rumo que o Brasil tomou nos últimos anos, “estamos a viver o maior retrocesso da história, vivemos um retrocesso na educação, ciência, economia, e os mais afetados são os jovens”.