A União Europeia exorta a Rússia a dar “passos concretos e tangíveis” com vista ao desanuviamento da crise com a Ucrânia, designadamente a retirada de forças militares das zonas fronteiriças, observando que de Moscovo chegam “sinais contraditórios”.
“Nos últimos dois dias, a Rússia sinalizou que talvez esteja aberta à diplomacia, e nós exortamos a Rússia a dar passos concretos e tangíveis rumo à desescalada, porque esta é a condição para um diálogo político sincero. Não podemos tentar eternamente a diplomacia de um lado enquanto o outro lado concentra tropas”, declarou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França).
Charles Michel apontou que “as autoridades russas disseram repetidamente que não têm quaisquer intenções agressivas” relativamente à Ucrânia, isto apesar de, frisou o representante, “já terem anexado parte do território ucraniano, a Crimeia, em 2014, e constantemente minarem a soberania ucraniana, sobretudo na parte oriental”.
“Cercar um país com uma mobilização extraordinária de forças militares nunca antes vista só pode ser visto como um comportamento agressivo e ameaçador. Esta escalada não só coloca em perigo a estabilidade e integridade da Ucrânia, mas ameaça também a paz e segurança da Europa e o sistema internacional baseado na ordem”, observou o presidente do Conselho Europeu.
Por seu lado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apontou que, “apesar das notícias” de terça-feira, sobre um suposto início de retirada das tropas russas concentradas junto à Ucrânia, “a NATO não viu ainda sinais de qualquer redução” dos meios militares que Moscovo foi concentrando ao longo das últimas semanas.
“Como todos nesta sala, espero verdadeiramente que o Kremlin não decida desencadear mais violência na Europa. Ontem, a Rússia estava certamente a enviar sinais contraditórios. Por um lado, as autoridades anunciam a retirada das tropas russas. Por outro lado, a Duma votou pelo reconhecimento formal de Donetsk e Luhansk como repúblicas independentes. A diplomacia ainda não pronunciou as suas últimas palavras”, declarou.
Tal como Charles Michel, Ursula von der Leyen aplaudiu a unidade demonstrada pela UE durante esta crise, observando que as tentativas do Kremlin (Presidência russa) de separar os 27 “falhou”.
“No início deste mês, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo [Sergei] Lavrov escreveu 36 cartas a cada um dos Estados-membros da União Europeia e Aliados da NATO, com uma série de exigências. Recebeu duas cartas em troca: uma do Alto Representante Josep Borrell, em nome da União Europeia, e outra de Jens Stoltenberg, em nome da NATO. Mais uma vez, o Governo russo tentou dividir-nos, mas a sua tentativa falhou”, disse.
Voltando também a acenar com a ameaça de sanções sem precedentes em caso de uma nova agressão russa à Ucrânia, a presidente do executivo comunitário garantiu ainda que a UE também está preparada “no caso de a liderança russa decidir usar a questão energética como uma arma”, pois, face a uma diversificação dos seus aprovisionamentos de gás, levada a cabo nas últimas semanas, para resistir até ao final do inverno sem gás russo.
A Rússia anunciou hoje o fim das manobras militares e a partida de algumas das suas forças da península da Crimeia anexada da Ucrânia, onde a presença de tropas alimentou os receios de uma invasão.
Na terça-feira, Moscovo anunciou uma retirada "parcial" dos seus soldados destacados durante semanas nas fronteiras da Ucrânia, um sinal de desescalada após dois meses em que se receou uma invasão iminente.
Europeus e norte-americanos continuam à espera de provas de uma importante retirada militar russa, mas estão cautelosamente otimistas. A Rússia não especificou a extensão ou o calendário da retirada.
O Ocidente acusou a Rússia de ter concentrado mais de 100.000 tropas nas fronteiras da Ucrânia para invadir novamente o país vizinho, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014. Mas Moscovo negou sempre o desejo de guerra, mas exigiu garantias para a sua segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca será membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Esta exigência foi rejeitada pelo Ocidente, que propôs em troca conversações sobre outros assuntos de segurança, como o controlo de armas ou visitas recíprocas a infraestruturas sensíveis.
Os ministros da Defesa da NATO reúnem-se entre hoje e quinta-feira, em Bruxelas.