Quatro dias depois dos acontecimentos na Rússia, a incerteza sobre o futuro próximo é hoje maior do que antes. E, como disse o Alto Representante da UE para a Política Externa e a Segurança, Josep Borrell, “a instabilidade político-militar de uma potência nuclear é preocupante”. Basta imaginar o que poderia acontecer se Prigozhin e os seus mercenários tivessem entrado em Moscovo.
O que ganhou Prigozhin com a sua rebelião abortada? Se forem afastados por Putin o ministro da Defesa e o chefe do Estado maior russo, o grupo Wagner terá alcançado os seus objetivos principais, caso contrário terá sido uma rebelião inútil. Antes da marcha dos mercenários em direção a Moscovo, Prigozhin multiplicara-se em queixas e insultos contra aquelas duas figuras.
No início da rebelião Prigozhin afirmou que a invasão da Ucrânia pela Rússia não foi determinada por qualquer receio de um ataque da NATO nem teve a ver com a preocupação de proteger as populações russas no Donbass, mas resultou de interesses pessoais e profissionais do ministro da Defesa, do Chefe das Forças Armadas russas e de outras figuras próximas de Putin. Só que a credibilidade deste líder do Grupo Wagner não é grande.
Indesmentível é que Putin ficou mais fraco com o que se passou no sábado. Ameaçar solenemente com graves consequências o traidor Prigozhin, como fez Putin, e poucas horas depois deixá-lo partir tranquilamente para a Bielorrússia revela fraqueza. E o espetáculo de cinco mil mercenários percorrendo a autoestrada em direção a Moscovo também mostra que Putin não domina totalmente as suas forças armadas e de segurança. Apenas helicópteros e caças tentaram deter aquela marcha, com escassos resultados e com vários pilotos mortos.
Na segunda-feira ao fim do dia Putin falou ao país. Ontem voltou a falar. Tentou justificar-se, mas faltou-lhe coerência.
A rebelião dos mercenários foi recebida na Ucrânia com natural satisfação, na esperança de que um exército russo dividido e descrente da força de Putin combata com menos determinação os ucranianos. Talvez, mas também aqui não há certezas.
O único vencedor claro deste agitado fim-de-semana terá sido Lukashenko, presidente da Bielorrússia, que marcou pontos junto de Putin ao convencer Prigozhin a voltar para trás quando estava a 200 quilómetros de Moscovo.