PSD desafia Pizarro a debater estatuto do SNS e chama decreto ao Parlamento
14-09-2022 - 07:00
 • Susana Madureira Martins

Sociais-democratas acusam o Governo de aprovar o novo estatuto do SNS "nas costas do Parlamento" e entrega esta quarta-feira um requerimento para a apreciação do decreto em plenário. "Temos aí um novo ministro da Saúde que representa uma oportunidade para abrir este debate", diz Ricardo Batista Leite.

Uma semana depois do pedido de apreciação parlamentar do decreto-lei que inclui o "bónus" das pensões, o PSD chama o novo estatuto do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para debate no Parlamento.

O vice-presidente da bancada social-democrata Ricardo Baptista Leite explica que o requerimento dá entrada esta quarta-feira na mesa da Assembleia da República, criticando um diploma "aprovado em pleno mês de agosto, por uma ministra demissionária, nas costas do Parlamento".

Para o PSD, e para fundamentar a apreciação parlamentar, está também em causa o facto de o Governo "não ter ouvido os profissionais de saúde e as associações de doentes". E o "caminho errado" para chegar a este diploma.

Em declarações à Renascença, Baptista Leite critica o "conjunto de mudanças que não são o que consideramos necessário para a reforma do modelo de gestão, financiamento e reorganização que o SNS precisa", atirando à maioria absoluta que acusa de injetar "mais dinheiro e profissionais no SNS, mas apresenta piores resultados". Ou seja, para o PSD "há problemas graves de gestão".

Baptista Leite desafia diretamente o ministro Manuel Pizarro a debater o decreto: "o diálogo devia ser construtivo e para ser construtivo temos aí um novo ministro da saúde que representa uma oportunidade para abrir este debate", atira o deputado.

É dada como que uma espécie de benefício da dúvida a Pizarro, com o dirigente do PSD a criticar o primeiro-ministro que acusa de não ter mostrado "disponibilidade para mudar de política, mas seria fundamental que o PS tivesse humildade de reconhecer que o caminho falhou".

Estatuto aprovado, mas "isto não tem a ver com promulgações do Presidente da República"

Face a um decreto promulgado por Marcelo Rebelo de Sousa em pleno agosto, Baptista Leite argumenta que "isto não tem a ver com as questões políticas, nem com promulgações do Presidente da República, tem a ver com uma questão fundamental que é uma visão divergente".

O mal não está em Marcelo ter promulgado o decreto (com diversas dúvidas, de resto). O problema do novo estatuto do SNS é a "visão fechada do que devem ser as reformas", com Baptista Leite a chamar ao PSD a "obrigação de trazer esse debate e deixar claro que este não seria o nosso caminho".

Assim, "independentemente da promulgação do Presidente da República do estatuto e da regulamentação, este debate não pode ser feito nas costas do Parlamento, tem de ser feita de forma transparente", conclui o deputado.

Fernando Araújo também não é o "problema"

Apontado como o escolhido para diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, atual presidente da Administração do Hospital de São João, no Porto, não é visto pelo PSD como um problema. O problema é o lugar que vai ocupar. Baptista Leite refere que a discussão "vai muito para além do nome das pessoas, não é por ser a pessoa A, B ou C que vai resolver o problema estrutural".

A questão levantada pelo PSD aproxima-se dos argumentos invocados por Marcelo nos fundamentos da promulgação em agosto. Trata-se da "possibilidade de haver um director executivo para o SNS e não para o sistema de saúde, um diretor executivo que vai existir por cima de um conjunto de estruturas que não desaparecem."

O deputado dá o exemplo das "administrações regionais de saúde que vão continuar", sendo "mais uma camada de burocracia, ao invés da simplificação dos modelos de gestão de modo a garantir melhores resultados".