“Palestina Livre”, cântico entoado por centenas de manifestantes em Lisboa
19-10-2023 - 01:34
 • Marisa Gonçalves

A Praça do Martim Moniz, no centro da capital, encheu-se de bandeiras da Palestina e cartazes com apelos ao “Fim da Agressão a Gaza e à Paz no Médio Oriente".

Os cânticos ouviam-se ao longe: “Libertem a Palestina”, “Palestina Hoje e Sempre”, enquanto ecoava a música de tambores.

No meio de uma multidão de centenas, Débora Rosado juntava a sua voz à manifestação. É casada com um palestiniano e fala numa causa que lhe é muito próxima.

“O meu marido é de uma localidade próxima de Belém e tenho uma filha que é luso-palestiniana, por isso, esta causa está muito perto do meu coração. Vivemos agora em Portugal porque eu, enquanto casada com um palestiniano, não tenho o direito de viver no território porque Israel não o permite”, declara à Renascença.

Débora Rosado viveu durante um ano na Palestina e diz ter-se apercebido dos condicionamentos impostos à população. “Pude ver como o meu marido não se pode movimentar naquele território. Já eu, como estrangeira, podia”, sublinha.

À distância, Débora Rosado diz acompanhar os acontecimentos, na Faixa de Gaza, com “tristeza” e “revolta”.

“Eu conheço aquele povo e só quem está em contacto com os palestinianos é que entende a sua resistência. São pessoas felizes, querem paz e viver bem. Ver estas atrocidades cometidas contra o povo palestiniano é uma grande tristeza. Os nossos amigos vivem com muito medo”, afirma.

Na opinião de Débora Rosado, falta vontade política para resolver o conflito entre israelitas e palestinianos. “Temos de pressionar os nossos governos para que Israel responda pelos crimes que tem cometido”, defende.

Apelos à intervenção de Portugal

A opinião vem a ser partilhada por Carlos Almeida, vice-presidente do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino, que também marcou presença na Praça do Martim Moniz, apelando a uma intervenção dos órgãos de soberania, em Portugal.

“O Governo tem uma resolução aprovada na Assembleia da República desde 2014 recomendando o reconhecimento do Estado da Palestina. Se o Governo português diz que defende a solução de dois Estados, afinal, porque aguarda tanto tempo para reconhecer o Estado da Palestina? Porque não assume uma posição clara e condenatória da política de ocupação e de limpeza étnica? Todos os governos do mundo sabem que a solução dos dois Estados está a morrer todos os dias”, refere.

Carlos Almeida assume que receia o alastrar do conflito, entre o Hamas e Israel, a outros países do Médio Oriente.

“O povo palestino padece de uma doença incurável, chama-se esperança”, remata, citando um poeta da Palestina.

Isabel Camarinha condena Israel, EUA e NATO

Também presente na manifestação, Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP, apontou o dedo a Israel e à comunidade internacional.

“Todos os que exigem que o povo palestiniano tenha direito à sua pátria independente, com as fronteiras anteriores a 1967 e capital em Jerusalém oriental, conforme estabelecem as centenas de resoluções das Nações Unidas, não aceitam este genocídio que Israel está a fazer”, aponta, acrescentando o que diz ser “a cumplicidade de Estados Unido, União Europeia e NATO”.

A concentração "Fim à Agressão a Gaza, Paz no Médio Oriente", à qual se seguiu uma vigília, foi organizada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), Coletivo pela Libertação da Palestina e Confederação-Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN), que já prometeu voltar à rua no dia 29, em solidariedade com a causa palestiniana.