Os cânticos ouviam-se ao longe: “Libertem a Palestina”, “Palestina Hoje e Sempre”, enquanto ecoava a música de tambores.
No meio de uma multidão de centenas, Débora Rosado juntava a sua voz à manifestação. É casada com um palestiniano e fala numa causa que lhe é muito próxima.
“O meu marido é de uma localidade próxima de Belém e tenho uma filha que é luso-palestiniana, por isso, esta causa está muito perto do meu coração. Vivemos agora em Portugal porque eu, enquanto casada com um palestiniano, não tenho o direito de viver no território porque Israel não o permite”, declara à Renascença.
Débora Rosado viveu durante um ano na Palestina e diz ter-se apercebido dos condicionamentos impostos à população. “Pude ver como o meu marido não se pode movimentar naquele território. Já eu, como estrangeira, podia”, sublinha.
À distância, Débora Rosado diz acompanhar os acontecimentos, na Faixa de Gaza, com “tristeza” e “revolta”.
“Eu conheço aquele povo e só quem está em contacto com os palestinianos é que entende a sua resistência. São pessoas felizes, querem paz e viver bem. Ver estas atrocidades cometidas contra o povo palestiniano é uma grande tristeza. Os nossos amigos vivem com muito medo”, afirma.
Na opinião de Débora Rosado, falta vontade política para resolver o conflito entre israelitas e palestinianos. “Temos de pressionar os nossos governos para que Israel responda pelos crimes que tem cometido”, defende.
Apelos à intervenção de Portugal
A opinião vem a ser partilhada por Carlos Almeida, vice-presidente do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino, que também marcou presença na Praça do Martim Moniz, apelando a uma intervenção dos órgãos de soberania, em Portugal.
“O Governo tem uma resolução aprovada na Assembleia da República desde 2014 recomendando o reconhecimento do Estado da Palestina. Se o Governo português diz que defende a solução de dois Estados, afinal, porque aguarda tanto tempo para reconhecer o Estado da Palestina? Porque não assume uma posição clara e condenatória da política de ocupação e de limpeza étnica? Todos os governos do mundo sabem que a solução dos dois Estados está a morrer todos os dias”, refere.
Carlos Almeida assume que receia o alastrar do conflito, entre o Hamas e Israel, a outros países do Médio Oriente.
“O povo palestino padece de uma doença incurável, chama-se esperança”, remata, citando um poeta da Palestina.
Isabel Camarinha condena Israel, EUA e NATO
Também presente na manifestação, Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP, apontou o dedo a Israel e à comunidade internacional.
“Todos os que exigem que o povo palestiniano tenha direito à sua pátria independente, com as fronteiras anteriores a 1967 e capital em Jerusalém oriental, conforme estabelecem as centenas de resoluções das Nações Unidas, não aceitam este genocídio que Israel está a fazer”, aponta, acrescentando o que diz ser “a cumplicidade de Estados Unido, União Europeia e NATO”.
A concentração "Fim à Agressão a Gaza, Paz no Médio Oriente", à qual se seguiu uma vigília, foi organizada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), Coletivo pela Libertação da Palestina e Confederação-Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN), que já prometeu voltar à rua no dia 29, em solidariedade com a causa palestiniana.