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O bastonário da Ordem dos Médicos reafirma que Portugal não precisa de mais médicos. Em declarações à Renascença, Miguel Guimarães frisa que o problema é o ministério não conseguir cativar os clínicos para ficarem no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“É preciso valorizar a carreira, que está congelada há quase 15 anos. Sem valorização, naturalmente, as pessoas procuram outras alternativas”.
Em comunicado conjunto, a Associação Nacional dos Estudantes de Medicina, o Conselho das Escolas Médicas e a Ordem dos Médicos manifestam o seu “desagrado e discordância” com as declarações recentes do ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, sobre a necessidade de abertura de mais vagas.
Para estas organizações, não há necessidade de aumentar o número de vagas nas faculdades de medicina: Portugal já está acima da média europeia, que é de uma escola médica por dois milhões de habitantes, “bastariam cinco ou seis escolas médicas”.
O comunicado refere ainda que, nos últimos 20 anos, o número de estudantes de Medicina triplicou. E neste momento, há mais de 57.700 médicos inscritos na Ordem dos Médicos (OM).
No entanto, só 52,3% dos médicos nacionais trabalha para o Serviço Nacional de Saúde, “o que nos deve levar a todos a refletir sobre o processo de políticas de contratação pública, desvalorização dos 11 a 13 anos de estudo de um médico, do conhecimento, competências e enorme responsabilidade que os médicos têm na sociedade mas também sobre as verdadeiras causas de falta de capital humano no SNS”.
Com alguma ironia e manifesto desagrado, as três entidades elencam dez questões dirigidas Manuel Heitor, que nos últimos dias defendeu a abertura de mais vagas para Medicina noutras faculdades
Questionam o ministro do Ensino Superior sobre se “quer diminuir a qualidade da formação médica, formar mais médicos sem as condições adequadas ou simplesmente quer que Portugal seja um país exportador, competindo com países como Cuba, dominando o mercado internacional”.
Por outro lado, informam o ministro que, segundo um relatório da OCDE publicado o ano passado, Portugal “tem neste momento uma situação privilegiada em relação à formação médica, ocupando o oitavo lugar (em 36) quanto ao número de novos formandos em medicina/ano: 16,1 por 100 mil habitantes, em 2017, bem acima da médica da OCDE, que é de 13,1.
A plataforma frisa que a capacidade formativa das faculdades de Medicina “está há muito nos limites para garantir um ensino de qualidade” e “há uma necessidade urgente de maior investimento público nas faculdades existentes”.
E num último ponto, o comunicado refere ainda que “a um aumento do número de estudantes de Medicina não equivale um aumento do número de médicos futuros, sobretudo especialistas, por não existir capacidade formativa adequada”.
E dá como exemplo o ano de 2019, em que um em cada quatro candidatos formados pelas escolas médicas portuguesas não obteve colocação na primeira candidatura. O mesmo se passou com 63% dos candidatos formados no estrangeiro.
Na opinião das entidades da plataforma, são dados que o ministro desconhece e, portanto, as suas declarações revelam falta de conhecimento da realidade da formação médica portuguesa, sobre a distribuição dos recursos médicos e estão desalinhadas com as melhores práticas internacionais , desrespeitando os doentes e o seu direito a terem profissionais de qualidade”.