A próxima pergunta da catequese das miúdas é esta: como estudar Jesus?
Bom, começo a resposta desrespeitando as regras da narrativa: não vou criar um crescendo, começo já pelo zénite. Por vezes, quando a concentração é máxima e o ambiente é o indicado, como num retiro, parece que conseguimos de facto ouvir Jesus ao nosso lado. É um amigo que está ali. Num retiro, há uns anos, eu senti e ouvi Jesus ao meu lado, a sensação foi tão intensa que acabei a chorar. Chorei pela confirmação da Sua existência, Ele estava ali naquele momento, não tenho dúvidas sobre isso. Os cínicos que se riam. Não somos grandes católicos se não tivermos duas qualidades: capacidade para despertar o riso escarninho dos cínicos e a capacidade de encaixe quando nos atiram essa ironia à cara. Que se riam, não tem mal, aliás, até tem bem: se não incomodássemos os cínicos materialistas não estaríamos a fazer grande coisa.
Depois, às vezes, parece que escuto Jesus de outra forma. Sabem quando sentimos nas nossas costas alguém a aparecer? Ela ainda não falou, está com pezinhos de gato, mas mesmo assim sentimo-la de alguma forma, não é? Muitas vezes, sei que Ele aparece assim, qual anjo da guarda, qual guarda-costas.
Mas o fundamental, parece-me, é conseguirmos escutar Jesus nas outras pessoas e, nessa tarefa, é importante estarmos atentos às outras linguagens além das palavras. As palavras humanas são muitas vezes usadas apenas para mentir ou gozar. A verdade emocional está noutro tipo de linguagem: os gestos, o olhar e até o tom de voz. As palavras são apenas veículos desse tom. A mesma frase, “hoje vou ver o jogo”, pode transmitir alegria ou tristeza, tudo depende do timbre e muitas vezes as pessoas estão a comunicar connosco através desse timbre e não através das palavras; estão a dizer-nos “hoje vou ver o jogo”, mas essa informação é irrelevante, o que é relevante é o tom triste/preocupado/alegre/ansioso que se esconde na frase – é aí que está Jesus, é aí que está a porta sobre os outros. Pelo menos, é assim que eu vejo as coisas. Ou melhor, é assim que eu oiço as coisas. Jesus está nessa linguagem escondida, no subtexto e não no texto, porque Ele nunca está no óbvio. A palavra “óbvio” é preguiçosa, faz parte do calão do tal mundo cínico, ateu e literal, o mundo que se julga racional, mas que, como os burros, anda com palas nos olhos e muita cera nos ouvidos.