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No dia em que o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que vão ser aprovadas medidas de apoio aos cuidadores informais e às pessoas cuidadas, a Renascença entrevista Maria dos Anjos Catapirra, da Associação Nacional de Cuidadores Informais.
Como recebeu o anúncio de que já amanhã serão anunciados apoios aos cuidadores informais?
Sinceramente, sem grande surpresa. Depois de tudo o que já fizemos e depois de tudo o que aconteceu em termos de comunicação social -- entrevistas e, inclusivamente, o Presidente da República recebeu-nos -- não me causa surpresa que o Governo venha anunciar medidas.
Fui apanhada um pouco de surpresa pela notícia hoje de que vai ser aprovado em Conselho de Ministros. Onde é que ficam os partidos nisto? Todos sabemos que os partidos todos -- de formas diferentes, mas todos -- têm estado interessados pela causa. Não foram ouvidos? Não são ouvidos? Esta dúvida fica assim um bocado no ar.
Ou seja, esperava medidas que resultassem de maior consenso político, é isso?
Exatamente. Mais consenso político. Causa-nos alguma estranheza os próprios partidos dizerem que desconhecem o que é que vai surgir.
Do seu ponto de vista, que medidas prioritárias deveriam ser anunciadas já amanhã?
Do ponto de vista da associação, prioritário neste momento seria uma revisão da lei de trabalho, porque as pessoas continuam a precisar de apoio para ter ausências, que são prementes.
Teria de haver o reconhecimento do estatuto do cuidador nas carreiras contributivas. Quando as pessoas cuidam de alguém anos e anos a fio, às vezes nas faixas etárias mais incríveis, não têm direito a nada, inclusivamente reforma.
Para nós, o premente mesmo -- e acho que muita gente se está a esquecer disto -- é que há muitos cuidadores em situação de pobreza. As pessoas deixam de receber vencimentos, deixam de receber subsídios. E nem todas têm um suporte financeiro, um cônjuge, os pais, seja quem for. Há muitas famílias monoparentais e muitos filhos a cuidar de pais que não têm vencimentos. Portanto, um subsídio ou um apoio ao cuidador seria de extrema importância.
Dos contactos que tem mantido com o governo, acredita que de facto há sensibilidade para avançar nesse sentido?
Eu acredito que haja sensibilidade, não sei é até que ponto há muita vontade. Eu estive presente nas audições das secretárias de Estado e fiquei com a sensação de que vinham dali projetos-piloto.
Os cuidadores não precisam de projetos-piloto. Não se vai conseguir tirar ninguém da pobreza nem dar apoio a ninguém com um projeto-piloto. Isso faz-se com as IPSS, com os centros de saúde, não se faz com o ato de cuidar.
As pessoas acabam por ter de cuidar, quer queiram, quer não, sejam quais forem as condições financeiras que tenham ou que não tenham. Portanto, se a senhora secretária de Estado, quando foi ouvida na Assembleia da República, passou a ideia que tinha para o Governo e o Governo agarrou essa ideia, isso não nos vai adiantar nem atrasar nada. Ficamos todos na mesma.
O que nós queremos é medidas concretas e objetivas ontem. Nem é hoje. Era ontem.
Todos nós sabemos que ninguém vai parar de cuidar, porque não há instituições que cheguem para as pessoas e também há quem não queira pôr as pessoas em instituições. A situação de pobreza mantém-se e a situação de carência dos produtos mantém-se.