Inaugurada em 2022, em Gouveia, a incubadora de empresas The Rock é a primeira incubadora nacional focada em cibersegurança, contando já com cinco empresas sendo que, pelo menos, uma delas faturou no ano passado 1,5 milhões de euros. Proteger os dados de empresas e pessoas é um dos objetivos, mas também o de levar gente para o Interior.
Para Nuno Ramos, de 51 anos, sócio fundador e gerente da The Rock, não se trata apenas de uma incubadora de empresas. A ideia que teve com mais três sócios também tem em conta a região que agoniza com o despovoamento.
“Isto não é simplesmente uma incubadora. Aqui estamos a tentar criar um ecossistema de segurança, onde pretendemos trazer as empresas de Lisboa e do Porto, onde podem trabalhar num ambiente mais tranquilo e calmo”, valoriza o gerente da The Rock, salientando ainda a existência de “uma academia que vai fazer cursos de cibersegurança de curta duração”.
Para já, são cinco as empresas já a funcionar na área da cibersegurança, mas Nuno Ramos garante que há espaço para mais. Para investir e também para aprender na academia. “Ainda temos espaço para receber mais empresas. Promovendo a rotatividade, ou seja, damos apoio enquanto estão a nascer, numa sala com 20 m2, mas depois é normal que as empresas procurem outro espaço. Podem ir ao site da The Rock, ou então podem deslocar-se aqui a Gouveia, onde temos sempre pessoas para fazer o acolhimento”, realça.
Uma das empresas ali instalada faturou, aproximadamente, 1,5 milhões de euros no ano passado. “Nós como incubadora de empresas dedicadas à cibersegurança, só aceitamos empresas que tenham atividade sobre a cibersegurança e prestamos serviços que garantam o seu sucesso, apoio na tecnologia, gestão, marketing, consultoria, e a disponibilidade de um espaço físico ou virtual, onde podem desenvolver esse trabalho, com valores muito baixos, entre os 70 a 150 euros, mais IVA”, destaca Nuno Ramos.
“Tornou-se sexy. De repente, toda a gente sabe de cibersegurança”
Quem já está instalado na The Rock é Francisco Rente, de 40 anos, natural de Aveiro. É o CEO da Art Resilia, uma empresa focada em ciberresiliência e que conta já com 23 funcionários. Mas o que fazem ao certo? “Prestamos serviços de diagnóstico até à parte de proteção contínua, através de um centro de operações, o Security Operation Center. Na parte ofensiva fazemos testes de intrusão, auditorias em que se veste o papel do atacante de forma controlada. E recolhemos informação descritiva sobre ameaças que nos permitem afinar as defesas das organizações. Na segurança defensiva, garantimos tudo o que é em conformidade com regulamentos legais e boas práticas”, conclui Francisco Rente, que passou a deslocar-se com frequência a Gouveia.
O CEO da Art Resilia analisa o panorama da cibersegurança em Portugal. “Estamos numa fase de transformação profunda, trabalho nisto há 20 anos. Antigamente era visto como algo obscuro, estranho e não percebiam a necessidade. Hoje, a cibersegurança tornou-se sexy, mas de repente toda a gente sabe de cibersegurança e há prestadores em todo o lado, vai haver uma fase de triagem. O mercado cresceu, fruto do mediatismo dos ataques”, alerta.
Do Brasil para a Serra da Estrela
Sem os ruídos dos teares, no espaço da antiga fábrica têxtil Bellino&Bellino, recuperada pelo município de Gouveia, há mais silêncio, mas uma nova realidade: o olhar atento aos ataques informáticos.
Thiago Leite é o diretor de operações da The Rock. “Mudei-me do Brasil para Gouveia. Já trabalho nesta área há muitos anos, fiz o mestrado em Engenharia Informática, em Coimbra. Atuava num dos grandes bancos do Brasil e aceitei o desafio do Francisco Rente”, recorda sobre o seu percurso.
A primeira e única incubadora de empresas de cibersegurança em Portugal tem cinco empresas, de momento. “Estamos a assinar os contratos, empresas em diferentes abordagens da cibersegurança. Ter os dados protegidos é vital e direito de todas as pessoas. Temos muitos fatores que geram risco e temos escassez de profissionais”, considera Thiago Leite.
O diretor de operações da The Rock descreve as condições do local onde trabalha. “Temos seis salas para incubação física, temos espaço multiusos. Este espaço para Gouveia significa muito, isto era uma indústria têxtil, muitos no passado vieram morar em Gouveia, por conta da indústria, era um espaço abandonado e agora está recuperado”, sorri Thiago Leite.