E se a nossa economia fosse um aluno? "Com o governo de José Sócrates veio a boémia"
24-07-2020 - 00:00

A propósito do debate do Estado da Nação, a Renascença desafiou João Duque, economista e professor do ISEG, a avaliar o aluno Portugal, um aluno “mal preparado” que se “reendireitou, estudou e passou nos exames”. “A atual epidemia veio apanhar o nosso jovem a querer entrar no mestrado. Tem muitas ideias sobre o que quer fazer com base num plano que o António Costa e Silva lhe segredou ao ouvido. E tem uma bolsa! Mas tem de ser bom estudante. Caso contrário será um desperdício.”

A economia portuguesa sempre mostrou debilidades grandes. Um aluno mal preparado, que fez o ensino básico com enormes dificuldades, com muitas faltas às aulas porque a sua saúde não era boa… Além disso, os seus pais nunca se mostraram particularmente atentos às suas deficiências, acreditando que com o crescimento viria o tino.

A adesão à União Europeia e ao euro acabaram por disfarçar essa falha. Com novos colegas de escola pensava-se que ganharíamos brio e começaríamos a estudar mais. Durante uns anos Portugal até se dizia querer ser um bom aluno. Mas não… Os amigos e as amigas retiraram-lhe o foco. E com o governo de José Sócrates veio a boémia e as noitadas. Contas pagas muito acima da mesada dos pais… E estudar, está quieto. Por isso veio um chumbo monumental!

Como o aluno que chega ao fim do ciclo de estudos com três anos de mesadas e propinas, mas que os pais descobrem que nem as propinas pagou, derreteu o que tinha e não tinha endividou-se e chumbou. Com a troika foi o internato num colégio interno com contas pagas diretamente pelos pais ao colégio e saídas absolutamente controladas.

Reendireitou-se. Estudou e passou nos exames. Não terá tido um 19 na média geral, mas acabou pelo menos por convencer numa das disciplinas básicas: no défice teve nota máxima! Mas noutras deixou muito a desejar.

Andou em ramboias que bem podia ter evitado acabando por gastar o tempo noutras coisas em lugar das disciplinas cruciais: não se preparou na dívida, passou coxo no investimento público e quando comparado com os alunos que vieram do leste foi uma tristeza. Eles passaram por nós a uma velocidade e com um aprumo invejável.

De qualquer modo conseguiu limpar o quarto de estudante com a recuperação do imobiliário e abrilhantado com o turismo.

A atual epidemia veio apanhar o nosso jovem a querer entrar no mestrado. Tem muitas ideias sobre o que quer fazer com base num plano que o António Costa e Silva lhe segredou ao ouvido. E tem uma bolsa! Uma bolsa que tem uma componente imediata e outra para os próximos anos que pode até estender até ao doutoramento.

Mas tem de ser bom estudante. Caso contrário será um desperdício. A fundação que lhe concedeu a bolsa desconfia, dado o seu passado recente.

“O aluno terá de justificar afirmações com os cálculos para não reprovar”

O “Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030” é uma base de partida. Se conseguirmos fazer uma discussão séria, aprofundada e até demorada será uma enorme vantagem. Pelo menos podemos centrar os olhares. Há muitas ideias boas, embora outras de duvidosa justificação económica.

Por exemplo, no caso do investimento ferroviário o esquecimento da referência à bitola europeia é para mim uma falha muito grave que não compreendo. Por isso, nesta fase há que fazer contas e análises custo-benefício de modo a mostrar que as ideias elencadas passam o crivo inicial e passam para a fase da potencial implementação.

Não podemos cair no erro de “achar” que a escolha é boa porque “acham” isto ou aquilo, como recentemente justificaram a intervenção na TAP. Alguém viu um número a justificar esse investimento? Uma vergonha para quem deve a maior probidade no uso dos dinheiros públicos.

Isto é, o aluno terá de justificar as afirmações com os cálculos e mostrar isso ao longo de todo o curso para não se ver reprovado nas provas doutorais. E dada a idade avançada, não há outra oportunidade.