Vera Jardim está a perder a paciência com Cavaco Silva. "Sou um institucional, mas desta vez realmente chega-me a mostarda ao nariz", disse o antigo ministro da Justiça no último programa "Falar Claro" da Renascença, onde debateu a actualidade política com o centrista Diogo Feio.
O dirigente socialista fala em "grande desplante" de Cavaco Silva nas suas intervenções na Madeira " onde está a ver as empresas florescentes do arquipélago, em vez de estar aqui a acompanhar a situação política". Vera Jardim critica duramente o chefe de Estado por não agilizar a tomada de posse de um novo Governo.
"Este mundo exige dos políticos força, convicção e actuação. E não andar semanas e semanas a receber entidades. Ainda não recebeu os partidos...", desabafa o socialista que questiona se Cavaco tinha mesmo tudo pensado. "Se já tinha solução, era rápido, já estávamos com um governo nesta altura".
Papel, qual papel ?
Diogo Feio contra-ataca na direcção de António Costa, que acusa de promover uma alteração do sistema político à custa da promessa de um acordo estável, duradouro e consistente.
"Ora, olhamos para aquele conjunto de três papeis que foram tornados públicos com uma fotografia envergonhada numa cerimonia - não sei se lhe chamo assim ou algo no meio de dois cafés- em que assinaram uma papeleta qualquer. Isto é o contrário da ideia de um acordo estável, consistente e duradouro", dispara o ex-eurodeputado.
O dirigente do CDS confessa preferir o cumprimento do défice deste ano "do que o risco de que um Governo que lá chegue possa estar a antecipar despesa este ano para aumentar artificialmente o orçamento".
Ataque ao homem do leme
Vera Jardim diz que as águas estão agitadas e a culpa é de quem vai ao leme do país. "Já estamos nisto há 40 e tal dias desde as eleições e não temos ‘Costa à vista’. Andamos ainda no meio do mar encapelado", diz o dirigente socialista que parte para mais um duro ataque a Cavaco Silva.
"O senhor Presidente da República sabe tão bem ou melhor do que eu os prejuízos que isto traz para o país, o facto de não ter um Governo que comece a governar e a preparar um Orçamento. Há condições para que haja um governo com apoio na Assembleia da República. O senhor Presidente da República, que fala dos mercados e da confiança que temos que ter lá fora, acha que o arrastar desta situação é positivo para o país?", questiona Vera Jardim.
O dirigente socialista critica ainda a referência aos governos de gestão, nomeadamente em 1987, quando Cavaco Silva era primeiro-ministro.
"Mas tem alguma coisa que ver a situação em 1987 com a que vivemos hoje? Em 1987 falávamos de agências de rating? Nos défices? Nas obrigações perante a União Europeia? Ninguém falava nisto, não existia, era um mundo que não existia. Nós hoje vivemos noutro mundo", remata o dirigente do PS.