O Papa Francisco considera que "faltavam mulheres" na administração da Igreja e salientou que a sua escolha para várias funções na Cúria "não é uma moda feminista", mas sim um ato de justiça.
"Na administração normal da Igreja, faltavam mulheres", reconheceu o Papa, na segunda parte da entrevista à TVI e CNN Portugal, concedida em agosto, no Vaticano.
Francisco sublinha que a entrada de mulheres na Cúria não é uma "moda feminista", mas sim um "ato de justiça que, culturalmente, tinha sido posto de lado" na Igreja Católica.
O Papa adiantou ainda que o reforço da presença das mulheres na Igreja já "vem dos últimos 20, 30 anos e lentamente vai-se implementando".
Em julho, o Papa nomeou três mulheres como membros do Dicastério (ministério) para os Bispos, uma decisão alinhada com a sua intenção de dar maior visibilidade e liderança às mulheres na estrutura dentro da Igreja, informou na altura o Vaticano.
Francisco apontou o exemplo das nomeações que fez, recentemente, para o Conselho para Economia do Vaticano, composto por seis cardeais e seis laicos e presidido por um cardeal.
"Na nomeação de há três anos, nos seis cargos dos laicos nomeei cinco mulheres e um homem. Isso não se sabe e começou a funcionar melhor porque a mulher sabe administrar noutro tipo de coisas", afirmou o Papa Francisco, ao salientar que a vice-governadora do Vaticano é também uma mulher.
Relatou também a sua "experiência pessoal" nessa matéria, sublinhando que os "relatórios mais maduros" que recebia para conferir a ordenação como sacerdotes aos seminaristas "eram elaborados por mulheres dos bairros onde eles iam trabalhar na paróquia".
Na mesma entrevista, o Papa abordou ainda a sua visita a Fátima, em 2017, ao sublinhar que foi educado pela família "na devoção de Maria".
"Eu sou Mariano, gosto muito da Virgem, mas em Fátima senti outra coisa. Fátima deixou-me mudo. Fátima é a Virgem do silêncio para mim. E para mim, Portugal é Fátima. Que não se zanguem os portugueses, mas é a minha experiência", referiu.
Sobre o seu quotidiano, o chefe da Igreja Católica adiantou que se levanta cedo e que às "dez da noite" já está a dormir.
"Levanto-me às quatro horas, faço as orações. Às vezes celebro a missa a essa hora ou, quando não tenho, mais tarde. Depois começa o trabalho. Durmo seis horas", referiu.
Nesta segunda parte da entrevista, o Papa disse ainda estar impossibilitado de viajar para Kiev ou Moscovo nas próximas semanas por indicação médica, devido a problemas no joelho.
"Agora não posso ir, porque depois da viagem ao Canadá, a recuperação do joelho sofreu um pouco e o médico proibiu", disse Francisco.
O Papa já havia manifestado anteriormente a sua intenção de visitar Kiev, a convite das próprias autoridades ucranianas, após a sua visita ao Canadá, que realizou em julho.
Francisco também não apresentou possíveis datas futuras para estas deslocações
"Está no ar. Ainda não sei", acrescentou, embora tenha especificado que está "a conversar" com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e com o seu homólogo russo, Vladimir Putin.
O Papa enfatizou que três representantes do Vaticano viajaram para Kiev desde o início da guerra e que a sua presença lá "é forte".
"Tenho mantido contacto por telefone. Faço o que posso. Peço a todos que façam o que possam. Entre todos nós, algo pode ser feito. E acompanho, com a minha dor e as minhas orações, tudo o que consigo. Mas a situação é realmente trágica", disse.
Francisco também defende o diálogo para “avançar” para a paz.
"Sabe quem não sabe dialogar? Animais. São puro instinto. Se uma pessoa se deixa levar pelo puro instinto... Por outro lado, o diálogo é deixar de lado o instinto e escutar. O diálogo é difícil”, afirmou.
A visita do Papa ao Cazaquistão de 13 a 15 de setembro ainda se mantém na agenda.
[notícia atualizada às 11h00]