"Economias de Portugal e da Europa não serão muito diferentes depois da pandemia"
09-12-2020 - 13:13
 • José Pedro Frazão

Especialista em História Económica descarta uma grande mudança nas estruturas económicas à escala nacional, europeia e mundial e desvaloriza o fator demográfico como condicionante de relevo para a evolução económica. Pedro Lains mostra-se satisfeito com a estratégia europeia de recuperação económica.

O economista Pedro Lains, especialista em História Económica, defende que está a ser seguida a estratégia de recuperação correta, semelhante à desencadeada depois da Segunda Guerra Mundial.

Ouvido no programa Da Capa à Contracapa, da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa defende que a resposta de investimento seguida na Europa depois de 1945 é o modelo da atual estratégia de recuperação europeia. Pedro Lains não acredita numa mudança estrutural da economia portuguesa – e até da europeia – depois da pandemia.

A pandemia não está a afetar a base da economia portuguesa ou europeia. O setor automóvel não vai diminuir na economia europeia. O setor da construção não vai diminuir na economia portuguesa. O setor do turismo também não vai diminuir e se isso acontecer será numa proporção muito pequena na economia portuguesa. O setor da aviação não vai aumentar na economia portuguesa. O setor farmacêutico não vai aumentar na economia europeia. Estes setores respondem a outras forças. Há estatísticas que nos mostram quais são os fundamentos das grandes alterações nas estruturas das economias. E não me parece que esta pandemia vá alterar profundamente as estruturas da economia portuguesa, europeia e inclusive mundial”, argumenta o economista especializado em História Económica dos séculos XIX e XX.

O investigador do ICS sustenta também que o fator demográfico associado ao debate económico não deve ser sobrevalorizado. Laíns defende que a História mostra que as tendências demográficas acabam por ter uma resposta natural que não afeta de forma decisiva a dimensão económica.

“A demografia é um dos argumentos mais ‘plásticos’, dos que melhor se adaptam às circunstâncias da economia. Nas sociedades modernas através das migrações e em períodos mais antigos através de variações na natalidade e mortalidade. Nunca percebi muito bem esses cenários de redução de população”, acrescenta o economista, citando a História para descartar “grandes restrições nas sociedades contemporâneas” por via das evoluções demográficas.

Pedro Lains participava no programa Da Capa à Contracapa, onde debateu com o economista Fernando Alexandre, da Universidade do Minho, as expectativas económicas e sociais para os próximos 20 a 30 anos em Portugal.

Pelo contrário, Fernando Alexandre diz que uma grande mudança tecnológica está a caminho da Europa e de Portugal e defende que é fundamental que Portugal tenha uma estratégia bem pensada numa reindustrialização europeia, que passa muito pelo setor dos serviços. O coordenador da área económica da Fundação Francisco Manuel dos Santos antecipa ainda forte pressão sobre a banca portuguesa por via das moratórias com que o Governo português decidiu responder, entre outras medidas, à crise económica provocada pela pandemia.