O mundo precisa de uma revolução de amor e essa revolução deve começar nas famílias. Foi este o desafio lançado pelo Papa Francisco, em Dublin, onde, este sábado à tarde, se encontrou com mais de 300 casais.
“O nosso mundo precisa duma revolução de amor! Que esta revolução comece por vós e pelas vossas famílias! Lenta, mas decisivamente temos esquecido a linguagem direta duma carícia, a força da ternura. Não poderá haver uma revolução de amor, sem a revolução da ternura! Com o vosso exemplo, possam os vossos filhos ser guiados para se tornarem uma geração mais solícita, amorosa, rica de fé, para a renovação da Igreja e de toda a sociedade irlandesa”, disse o Papa Francisco, na pró-catedral de Santa Maria, uma igreja da capital irlandesa muito usada para casamentos.
Depois de ouvir testemunhos de três casais - já avós, recém-casados e noivos -, o Papa elogiou o testemunho dos idosos e considerou desafiantes as perguntas dos mais novos, que questionaram como falar de um amor para sempre num mundo em constante mudança.
“Temos de reconhecer que hoje não estamos habituados a algo que dure realmente toda a vida. É difícil até mesmo acompanhar o mundo, já que tudo à nossa volta muda, as pessoas entram e saem das nossas vidas, fazem-se promessas, mas muitas vezes são quebradas ou deixadas a meio. Sabemos como é fácil, hoje, ficar prisioneiros da cultura do provisório, do efémero. Esta cultura ataca as próprias raízes dos nossos processos de amadurecimento, do nosso crescimento na esperança e no amor”, disse o Papa, defendendo o caracter único do matrimónio cristão.
“Entre todas as formas da fecundidade humana, o matrimónio é único. É um amor que dá origem a uma nova vida. Implica a responsabilidade mútua na transmissão do dom divino da vida e oferece um ambiente estável no qual a nova vida pode crescer e florescer. O matrimónio na Igreja, isto é, o sacramento do matrimónio, participa de modo especial no mistério do amor eterno de Deus. Quando se unem pelo vínculo do matrimónio um homem e uma mulher cristãos, a graça do Senhor habilita-os a prometerem-se livremente um ao outro um amor exclusivo e duradouro”, continuou Francisco, que largou várias vezes as páginas escritas do discurso para improvisar e contar histórias.
Ainda antes do encontro com os casais, o Papa depositou um ramo de flores no altar da Capela do Santíssimo Sacramento daquela igreja, onde se recolheu algum tempo a rezar em silêncio, em homenagem às vitimas de abusos praticados por membros da Igreja na Irlanda. Nessa capela, arde, desde 2010, uma lamparina em memória dessas vitimas
Homenagem ao “padroeiro dos bêbados”
A caminho do local do encontro, o Papa foi saudado por milhares de pessoas nas ruas da capital irlandesa, já bem mais compostas do que estavam aquelas por onde passou no primeiro percurso citadino a caminho do Castelo de Dublin.
Num ponto do percurso, o papamóvel fez uma pequena paragem para Francisco rezar junto ao túmulo de Matt Talbot, uma espécie de “padroeiro dos bêbados”, muito venerado em Dublin.
Nascido em 1856, Matt Talbot foi o segundo de 12 filhos de uma família já marcada pelo alcoolismo do pai. O alcoolismo era, aliás, uma marca da sociedade irlandesa no século XIX, altura em que Dublin chegou a ter mais de dois mil bares. Matt terá começado a beber aos 12 anos quando trabalhava num estabelecimento desses. Entrou numa espiral de alcoolismo e muitas vezes chegou a casa sem botas ou sem camisa porque vendia o que tinha para comprar álcool. Mas aos 28 anos, prometeu à mãe que se curaria e entrou num caminho que foi, ao mesmo tempo, de cura e conversão.
Entrou como leigo para a ordem terceira dos capuchinhos e continuou a ser um trabalhador incansável. Morreu aos 65 anos quando ia a caminho da missa diária. Está em curso o processo para a sua beatificação, mas já é considerado venerável e tem grande devoção na cidade de Dublin, sendo considerado o padroeiro de todos aqueles que têm algum tipo de vício.
A jornalista da Renascença Aura Miguel acompanha o Papa Francisco na sua Viagem Apostólica à Irlanda com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.