O Papa dirige-se aos doentes de Covid-19, a partir da sua experiência pessoal com dificuldade respiratória, num novo livro intitulado ‘Vamos sonhar juntos’, escrito com o jornalista Austen Ivereigh, seu biógrafo.
“Quando, aos 21 anos, fiquei gravemente doente, tive a minha primeira experiência do limite, da dor e da solidão. Mudou as minhas coordenadas. Durante meses não sabia como seria, se ia morrer ou sobreviveria”, relata Francisco, a respeito do internamento em Buenos Aires, no ano de 1957.
Depois de meses “entre a vida e a morte”, Jorge Mario Bergoglio acabaria por sobreviver, mas viu ser-lhe retirado o lóbulo superior do pulmão direito.
“Sei por experiência pessoal como se sentem os doentes do coronavírus, que lutam para respirar, ligados a um ventilador”, escreve o Papa.
Francisco presta homenagem a duas enfermeiras que o acompanharam nesse momento de doença e que considera terem sido responsáveis pela sua sobrevivência, pela sua competência técnica e atenção humana.
O relato destaca ainda o impacto do “silêncio” no momento de sofrimento, em vez de palavras “vazias, ditas com boas intenções”.
O primeiro Papa jesuíta da história fala ainda do seu ‘Covid do Exílio’, na Alemanha, para onde partiu em 1986, para concluir a sua tese, um tempo em que diz ter-se sentido como “peixe fora de água”.
Francisco evoca a vitória da Argentina no mundial de futebol desse ano, precisamente contra a Alemanha, de que tomou conhecimento no dia seguinte, pelos jornais. “Era a solidão de uma vitória a sós, porque não havia ninguém para a partilhar. A solidão de não pertencer, que te torna um estranho”, precisou.
Numa passagem do livro divulgada pelo jornal italiano ‘La Repubblica’ e republicada pelo portal ‘Vatican News’, o Papa evoca também um terceiro momento de sofrimento e “transformação radical”, quando foi enviado para a cidade argentina de Córdoba, de 1990 a 1992, pelos seus superiores na Companhia de Jesus na Argentina – onde tinha sido nomeado provincial em 1973.
“Foi uma espécie de quarentena, de isolamento, como aconteceu a muitos nos meses passados, e fez-me muito bem”, lembra.
Nesse período, o atual pontífice leu a “História dos Papas”, de Ludwig Pastor.
“Com essa vacina, o Senhor preparou-me. Depois de conheceres essa história, não há muito que te possa surpreender no que acontece, hoje, na Cúria Romana e na Igreja. Foi-me muito útil”, refere.