O Governo português apelou esta quarta-feira “ao rápido restabelecimento da normalidade e da ordem constitucional no Gabão”, tendo em conta os desenvolvimentos mais recentes e garante estar acompanhar “a situação no país”, onde está em curso um golpe militar.
“O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), através da Embaixada de Portugal em São Tomé e Príncipe, que tem o Gabão na sua área de jurisdição, acompanha a situação no país, tendo estado em contacto com alguns dos cidadãos nacionais que residem naquele território”, anunciou o Governo através de um comunicado divulgado pelo Palácio das Necessidades.
“As viagens para o Gabão são desaconselhadas, apelando-se também aos residentes no país que mantenham uma atitude vigilante e de recolha às suas residências, conforme pode ler-se nos conselhos aos viajantes do Portal das Comunidades do MNE”, acrescenta-se no comunicado.
De acordo com o MNE, “cerca de 50 portugueses estão registados naquele posto consular, não havendo, até ao momento, qualquer pedido de ajuda com vista à retirada do país”.
O Gabão enfrenta desde a madrugada de hoje um golpe de Estado levado a cabo por militares, iniciado pouco depois de terem sido anunciados os resultados das eleições realizadas no passado sábado, dia 26, segundo os quais o Presidente Ali Bongo Ondimba permaneceria no poder, dando continuidade a 55 anos de domínio do poder pela sua família.
Um grupo de militares do Gabão anunciou hoje na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram Ali Bongo e a dissolução de todas as instituições democráticas.
Depois de constatar “uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (…) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor”, declarou um dos soldados.
O mesmo militar, alegando falar em nome de um Comité de Transição e Restauração Institucional, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam “encerradas até nova ordem”.
De acordo com jornalistas da agência de notícias France-Presse, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville.
Horas antes, a meio da noite, às 03:30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral anunciou que o Presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, que obteve 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.