João Luís Barreto Guimarães é o Prémio Pessoa 2022
15-12-2022 - 12:01
 • Maria João Costa com redação

Júri destaca "voz inconfundível" do médico cirurgião na poesia portuguesa contemporânea. Na sua 36.ª edição, o galardão distingue anualmente um português ou portuguesa de destaque nas áreas cultural ou científica.

João Luís Barreto Guimarães, poeta e médico cirurgião, é o vencedor do Prémio Pessoa 2022. O anúncio foi feito esta quinta-feira, no Palácio de Seteais, em Sintra.

O júri destaca a "voz inconfundível" de Barreto Guimarães na poesia portuguesa contemporânea "desde 1989, quando publicou o primeiro livro, aos 22 anos".

"Alia à virtude da palavra e da imaginação uma reflexão por vezes irónica, por vezes realista, sempre duramente trabalhada, sem prejuízo do efeito estético na construção do poema. Escreve sobre nós, portugueses, e sobre tudo o que vê e observa."

Os jurados ressaltam ainda a obra de Barreto Guimarães como "um testemunho de um tempo, o de agora, e de um tempo antigo, clássico, universal, reconhecível pela inteligência e a emoção".

Em janeiro de 2023 será publicado "Aberto Todos os Dias", o sétimo título de Barreto Guimarães na editora Quetzal.

“É um grande poeta num sítio pequeno”

Vizinho de João Luís Barreto Guimarães, o arquiteto Eduardo Souto Moura, também ele premiado com o Prémio Pessoa, conta que o poeta já lhe deixou uns livros “lá em casa”.

Sobre a escrita do poeta, Souto Moura refere que é uma “poesia muito interessante porque junta duas coisas que são muito difíceis, que é juntar o universal com o local”.

Influenciado pela “lírica portuguesa de grande tradição”, destaca Souto Moura, a escrita de Barreto Guimarães, trata de "temas universais”. “É por isso que é um grande poeta num sítio pequeno”, conclui o arquiteto, prémio Pritzker.

O musicólogo Rui Vieira Nery destaca a escrita do poeta vencedor do Prémio Pessoa como “uma voz muito original que tem um rigor de escrita” quase cirúrgico. Na sua opinião, Barreto Guimarães revela “uma preocupação de controlo formal, de pensar os ritmos das palavras, os jogos de conceitos com uma precisão muito grande, no entanto, depois é uma poesia que tem um calor e intensidade emocional muito grande”, conclui.

Francisco Pinto Balsemão, falando à parte no final da reunião do júri, referiu que Barreto Guimarães ainda não alcançou a notoriedade no nosso país. “É um poeta pouco conhecido ainda em Portugal, e com grande qualidade”, apontou o presidente do júri.

“Se quiser uma comparação, acho que está na linha de Alexandre O’Neill”, referiu Balsemão. Questionado pela Renascença, sobre se a dimensão da profissão de médico está também espelhada na obra de Barreto Guimarães, o presidente do júri sugere que a poesia do premiado “reflete um determinado tipo de vivência, e transmissão de valores, do que é a vida e o que é a morte, o que terá o facto de ser médico como ligação”, apontou.

Depois de Tiago Pitta e Cunha, o Prémio Pessoa regressa ao universo das letras. Pinto Balsemão lembra que “precisamos cada vez mais da poesia”. À Renascença afirmou: “Precisamos de nos libertar, e tentar resolver os problemas, ou enfrentar os problemas. Não é só a guerra da Ucrânia, é tudo o que está a acontecer em matéria tecnológica, na internet, no mundo do digital. A poesia ajuda a tudo isso, a sermos nós próprios”, rematou.

No valor de 60 mil euros, o Prémio Pessoa foi criado pelo semanário "Expresso" para a atividade de pessoas portuguesas com papel significativo na vida cultural e científica do país.

O júri do Prémio Pessoa 2022 foi presidido por Francisco Pinto Balsemão e Paulo Macedo (vice-presidente), e integrou ainda Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

Este ano na sua 36.ª edição, o Prémio Pessoa distinguiu nos últimos três anos o encenador Tiago Rodrigues, a cientista Elvira Fortunato (atual ministra da Ciência e Tecnologia) e o presidente da Fundação Oceano Azul, Tiago Pitta e Cunha.


Consulte abaixo a lista completa de laureados:

1987 - José Mattoso
1988 - António Ramos Rosa
1989 - Maria João Pires
1990 - Menez
1991 - Cláudio Torres
1992 - António e Hanna Damásio
1993 - Fernando Gil
1994 - Herberto Helder
1995 - Vasco Graça Moura
1996 - João Lobo Antunes
1997 - José Cardoso Pires
1998 - Eduardo Souto Moura
1999 - Manuel Alegre e José Manuel Rodrigues
2000 - Emanuel Nunes
2001 - João Bénard da Costa
2002 - Manuel Sobrinho Simões
2003 - José Joaquim Gomes Canotilho
2004 – Mário Cláudio
2005 – Luís Miguel Cintra
2006 – António Câmara
2007 – Irene Flunser Pimentel
2008 - João Luís Carrilho da Graça
2009 – D. Manuel Clemente
2010 – Maria do Carmo Fonseca
2011 – Eduardo Lourenço
2012 – Richard Zenith
2013 – Maria Manuel Mota
2014 – Henrique Leitão
2015 – Rui Chafes
2016 – Frederico Lourenço
2017 – Manuel Aires Mateus
2018 – Miguel Bastos Araújo
2019 – Tiago Rodrigues
2020 – Elvira Fortunato
2021 – Tiago Pitta e Cunha

[notícia atualizada às 13h38]