A atividade de rent-a-car tem mais de 120 anos, quase tantos como o automóvel, mas nunca viveu uma crise tão grande como esta, provocada pela pandemia Covid-19, que parou praticamente quase toda a frota de automóveis ligeiros. Despedimentos e redução drástica da frota são as consequências imediatas num setor que cresceu à boleia do turismo.
Em 2019, a faturação atingiu os 700 milhões de euros e o setor preparava-se para continuar a crescer (na ordem dos 5% a 6% em 2020) e aumentar o parque automóvel de 115 mil para 120 ou 125 mil viaturas.
A pandemia trocou as voltas e, neste momento, o rent-a-car não só não adquiriu novos carros como se está a desfazer de alguns milhares. Neste momento, tem apenas 72 mil veículos ligeiros e a redução vai continuar até aos 60 mil, número que deve ser atingido no fim do verão, diz à Renascença o presidente da ARAC - Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor, Joaquim Robalo de Almeida.
Para já, a taxa de ocupação a nível nacional é de 17%: varia desde os 3% no Algarve, aos 30% a 32% em Lisboa, sendo que aumentou a procura de veículos comerciais para satisfazer o crescimento das entregas de produtos durante o confinamento.
A quebra no negócio também tem impacto nos postos de trabalho. O rent-a-car emprega diretamente 6.500 trabalhadores, mais de 80% efetivos, e por cada um destes postos de trabalho diretos, há quatro a cinco indiretos. Ou seja, o setor envolve entre 30 a 40 mil pessoas.
“Se operarmos com metade da frota, vai ser muito difícil manter todos estes trabalhadores”, admite Joaquim Robalo de Almeida.
Oitenta por cento destes trabalhadores foram abrangidos pelo “lay-off” simplificado desde o meio de março e, à medida que a atividade cresce, as empresas vão retirando os seus trabalhadores deste regime. Mas está a ser muito lento.
Rent-a-car precisa de turistas estrangeiros
O turismo representa mais de 60% da faturação do setor do rent-a-car. Por isso, as 150 empresas representadas pela ARAC desejam que as fronteiras reabram, rapidamente, e que os aviões comecem a voar, e tragam cada vez mais estrangeiros para fazer férias em Portugal.
“Sem turistas não conseguimos trabalhar”, afirma Joaquim Robalo de Almeida. São eles os principais clientes, sobretudo, os britânicos. O ano passado, a taxa de ocupação no Algarve andou pelos 90%; para já, não passa dos 3%.
Tem havido um grande apelo ao turismo interno, mas para este setor não serve, assim como os turistas espanhóis, que chegam em viatura própria. “São os turistas internacionais que alugam carros”, diz Robalo de Almeida.
O dirigente da ARAC garante que a frota está toda preparada e diz esperar que os governos se entendam para a criação de corredores especiais, nomeadamente entre Portugal e o Reino Unido, para que os britânicos possam vir passar férias ao nosso país sem necessidade de cumprimento de quarentena no regresso. “Eles estão desejando e nós também porque senão corremos o risco de algumas empresas que já estão em sérias dificuldades, encerrarem.”
Empréstimos e resposta sobre moratória para IUC tardam em chegar
Joaquim Robalo de Almeida diz que algumas empresas associadas da ARAC recorreram às linhas de crédito disponibilizadas pelo Governo para fazer face às consequências da pandemia. No entanto, os empréstimos tardam em chegar.
“Há muitas empresas que ainda não têm resposta dos bancos, a análise da documentação não é célere e a resposta para as empresas com menor capacidade económica é ainda mais lenta”, queixa-se o dirigente da associação. Frisa que, acima de tudo, as empresas querem retomar a atividade e não, acrescentar dívida à dívida.
O adiamento de pagamento de diversos impostos, como o IVA e IRC, é muito bem visto pelo presidente da Associação dos Industriais e Aluguer de Automóveis sem Condutor. Apesar de serem apenas moratórias, “tudo isto tem que ser pago”.
Mostra-se muito preocupado com a falta de resposta do Governo, especialmente do Ministério da Economia, ao pedido de moratórias para o Imposto de Circulação Automóvel (IUC), “um dos que mais pesa nas contas de uma empresa de rent-a-car. É três a quatro vezes o peso dos salários numa empresa de média dimensão; numa grande, significa muito mais”.
Robalo de Almeida lembra que este setor é um grande contribuinte líquido, que paga anualmente quase mil milhões de euros de impostos.
À medida que se realizarem mais voos, a procura de carros para alugar também será maior, mas ficará sempre muito longe dos níveis atingidos o ano passado: em julho 90%, em agosto 95% e em setembro 83%. Mesmo com a redução da frota a metade, o presidente da ARAC não prevê que a taxa de ocupação vá além dos 50%.
Quanto à faturação, se chegar aos 300-320 milhões de euros (menos de metade do ano passado) já será muito bom. “E porque os meses de janeiro e fevereiro foram muito bons”, argumenta Robalo de Almeida.