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Passam poucos minutos das seis da manhã. A Rua Augusta não é a mesma. Outrora preenchida de esplanadas prontas a receber turistas, esta segunda-feira nenhuma delas estava montada. Foi preciso virar a esquina, na Rua da Vitória, para encontrar uma. A essa hora já Miguel Mendes, proprietário do Café Vitória, arrumava as mesas e cadeiras na rua, de forma meticulosa.
À entrada do espaço estão vários avisos: ‘obrigatório o uso de máscaras’ ou ‘só podem entrar duas pessoas’. Nada pode falhar. “Agora temos bastantes exigências, que temos de cumprir. Tivemos de fazer muitas adaptações, ficamos bastante diminuídos”.
A esta redução na capacidade para receber os clientes junta-se a falta de turistas, os clientes habituais deste café. “Ao nível turístico ficámos a zero. Éramos um ponto de paragem. Temos aqui muitos cruzeiros aqui em Santa Apolónia e mais o turista que vinha de avião, deixou de vir. A nossa faturação está a 10%, o que fazemos agora numa semana fazíamos num dia”, diz Miguel Mendes que é também responsável pelo café em frente, o Cais das Colunas, que reabriu esta segunda-feira. Pouco mais de uma dezena de trabalhadores regressam ao trabalho, depois de dois meses em "lay-off".
No silêncio da manhã ouve-se um ruído vindo de outra rua perpendicular à Rua Augusta. É o som da pistola de pressão que um proprietário de outro café está a usar para lavar as cadeiras da esplanada. Uma nova rotina, antes de abrir as portas. Sem grandes conversas, diz apenas que agora abre às 8h00, quando começa o movimento, e não às 6h30 como antes.
Se estas esplanadas estão vazias por faltas de turistas, o mesmo não se pode dizer no Café Académico, em Benfica. Um grupo de vizinhos reencontra-se na esplanada. “Já tinha saudades de vir ao café, sabe bem estar um pouco na esplanada, desde que nós tomemos as devidas precauções não há problema”, diz Ana Maria que já sublinha os cuidados que os proprietários do café têm.
“Saem os clientes vêm logo desinfetar as mesas e as cadeiras, já reparei nesse pormenor. E as distâncias também estão boas.” Já o tema da conversa não é difícil de adivinha. “É o coronavírus e a pandemia, a ver se não vem para aí novamente.” Ao lado está Irene que acrescenta que o principal objetivo destes encontros é “cumprimentar e estar com as pessoas que já não víamos há muito tempo, há muitos meses. As amigas do café, é o regresso à vida.”
A ansiedade e a vontade de Ausenda
Enquanto que os cafés já ganham nova vida, os restaurantes preparam tudo para reabrir. No Restaurante Batista, na Buraca, já se ouvem de novo os pratos e talheres, prontos a colocar de novo nas mesas. Estiveram arrumados nos armários precisamente dois meses.
Em lay-off estiveram 16 funcionários. “Estou ansiosa, mas cheia de vontade”, diz uma das gerentes, Ausenda Castanheira, que acrescenta que “não será como antes. “Temos a plena consciência que não vai ser a afluência a que estávamos habituados, principalmente à noite. Até porque as pessoas habituaram-se a ficar em casa, a fazer comida em casa”.
Mas a verdade é que são muitos os que querem voltar a este restaurante, garante Ausenda. “As pessoas dizem que estão com saudades e com imensa vontade de regressar e nós estamos cá de braços abertos.”
Quanto à nova organização, Ausenda garante que está tudo preparado. “Fazemos a divisão das mesas, optámos por não ter os acrílicos. Vamos fazer a lotação que nos é permitida. Temos capacidade para 150 lugares, vamos permitir apenas 75 pessoas. Mesas completamente separadas, com a distância de segurança. Temos toda a desinfeção de clientes para quando chegarem ao nosso espaço”, garante.
A responsável sabe, no entanto, que “não vai ser fácil. À hora do almoço a maior parte das pessoas não são família, são colegas de trabalho. Vai ser difícil organizar as pessoas sem estarem perto. Vai ser complicado”, conclui Ausenda Castanheira.