O alerta parte da organização não-governamental Ajuda em Ação: há famílias a passar fome em Camarate, concelho de Loures.
“São famílias com baixos rendimentos, com trabalhos precários, muitos imigrantes que não têm ainda a sua legalização finalizada, que não podem recorrer à Segurança Social, e esta crise veio trazer todas essas fragilidades à luz do dia”, conta à Renascença o diretor de programas da ONG em Portugal.
Mário Rui refere que algumas famílias com quem a organização contactou “estavam a iniciar já um processo muito complicado na sua gestão diária e quotidiana em que, por vezes, a única refeição por dia era a que estava a ser disponibilizada pela escola para as crianças”.
“Estamos a falar por exemplo de um casal com três filhos e um neto a cargo, que ficaram desempregados devido à Covid-19 ou de alguém que chegou há 7 meses a Portugal, para acompanhar a filha numa cirurgia, que a pandemia fez adiar, e que agora está em grandes dificuldades, porque os apoios tardam em chegar, ou de uma outra mãe que nas últimas duas semanas tem tido dificuldades em comprar fraldas para o filho portador de deficiência”, exemplifica.
Apoio chega na forma de cartões de compras
De acordo com a Ajuda em Ação, os pedidos de apoio alimentar dispararam devido à Covid-19 e depois de um processo rigoroso de levantamento de necessidades e sinalização dos agregados familiares mais carenciados, em conjunto com os parceiros locais, foi possível avançar, para já, com a primeira fase de apoio a 38 famílias, em resposta de emergência.
A cada família foi entregue um cartão de apoio alimentar no valor mensal de 100 euros, para a aquisição de bens alimentares e de higiene, a ser gasto num supermercado local.
Segundo a ONG, a decisão de distribuir cartões de apoio alimentar passou por querer “conferir às famílias responsabilidade, mas, sobretudo, dignidade, uma vez que serão elas próprias a gerir o dinheiro, de acordo com as suas necessidades”.
“É uma forma de as pessoas poderem manter as suas rotinas diárias, de escolherem os seus alimentos, porque a situação já é de uma fragilidade tão grande que, retirar ainda mais espaço onde as pessoas já não conseguiam quase respirar, não seria digno”, salienta Mário Rui.
O diretor de programas da ONG Ajuda em Ação garante que a resposta de emergência vai acontecer “ao longo dos próximos três meses” e que “as famílias vão ser acompanhadas com grande proximidade”.
Para conseguir garantir o sucesso desta ação de apoio a famílias que estão em situação vulnerável, a ONG tem a decorrer uma campanha de crowdfunding.
“Queremos fazer mais e para isso precisamos da ajuda de todos”, refere Mário Rui, diretor de programas da ONG em Portugal.
Projetos educativos e de intervenção social vão voltar
A Ajuda em Ação desenvolve em Camarate, concelho de Loures, projetos de inclusão educativa e apoia a formação e o empreendedorismo das mulheres. Projetos que pararam, para evitar a propagação da pandemia de Covid-19.
A Ajuda em Ação adianta que, ainda que a resposta de emergência para o apoio alimentar das famílias seja para já uma prioridade, com os parceiros, prepara-se para um regresso progressivo das famílias e crianças à normalidade.
“A linha de apoio humanitária criada dará suporte às pessoas para que regressem em segurança à sua vida e para que as crianças possam voltar à escola, não só em segurança como saudáveis”, refere Mário Rui.
“Quem tem fome não consegue ter um pensamento ativo, um pensamento dinâmico. As pessoas têm que ter as suas necessidades básicas satisfeitas e o alimento é essencial à vida”, sublinha o diretor da ONG, realçando ainda a existência de “uma equipa de psicólogos” no acompanhamento destas situações de vulnerabilidade.
O regresso à normalidade representa também o retomar do projeto educativo “A Minha Escola é Cool”.
A partir daí, explica, as atividades como as de formação em educação positiva para a comunidade escolar e de animação sociocultural, na dinamização dos tempos livres escolares e no período do verão, voltarão a fazer parte da "nova" realidade da Escola E.B. 2,3 Mário de Sá Carneiro e do Centro Escolar EB1/JI Quinta das Mós.
“Este projeto, assim como tudo no mundo, sofreu agora um duro golpe com a Covid-19, mas, ainda assim, não ficámos de braços cruzados”, refere Ricardo Oliveira, residente da Associação de Pais, Encarregados de Educação e Amigos do Agrupamento de escolas D. Nuno Álvares Pereira (APDNAP).
A expectativa da Ajuda em Ação e dos parceiros locais é retomar as rotinas e atividades interrompidas pela pandemia, assim que possível.
“Queremos continuar a qualificar as mulheres da comunidade educativa em situações vulneráveis, de desemprego ou com baixos rendimentos, nomeadamente, na área da costura. Apostando na formação e acompanhamento das crianças, jovens e mulheres de Camarate”, frisa o diretor de programas da ONG em Portugal.
O objetivo, assinala Mário Rui, é “ajudar a criar oportunidades e preparar melhor as comunidades para tempos tão incertos como serão os de pós-pandemia”.