Um telefonema pôs fim à greve de fome do presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, que tinha começado há dois dias.
Marta Temido confirmou aos jornalistas que falou com Carlos Ramalho e a reabertura das negociações com os enfermeiros.
“Confirmar que sim, que falei hoje com o senhor presidente do SINDEPOR, que lhe manifestei a minha preocupação e que lhe dirigi o mesmo apelo que dirigi aos outros dirigentes sindicais por estes dias, que é o de que nos sentemos a tratar de outros temas, que também existem e que estou certa que os enfermeiros reconhecem que são relevantes e que não são concretamente a questão da carreira de enfermagem”, afirmou a ministra, no Porto.
A intenção de retomar as negociações foi anunciada esta sexta-feira pela tutela, segundo a qual "estas reuniões incidem em temas como a organização do tempo de trabalho e a avaliação de desempenho".
A Associação Sindical dos Profissionais de Enfermagem – também envolvida na greve às cirurgias – confirma na Renascença que as razões que levaram à greve não fazem parte das novas conversações previstas com o Governo.
O prazo dado pelo Governo é até aos primeiros dias de março.
Face à notícia de novas negociações, o presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal anunciou admitir suspender a greve de fome.
Carlos Ramalho, que entrou em greve de fome na quarta-feira e está desde esse dia nos jardins em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, disse que só terminaria o protesto quando o Governo retomasse as negociações com o Governo.
"A senhora ministra [da Saúde, Marta Temido] telefonou-me e também recebi aqui [no jardim] um elemento do ministério que me veio comunicar isso", afirmou Carlos Ramalho.
"Estamos satisfeitos, era isso que nós queríamos, retomar as negociações, dialogar, mas o que pretendemos é uma negociação séria", salientou.
Carlos Ramalho disse que os sindicatos querem "uma negociação onde de facto as duas partes falem francamente, num diálogo aberto, e negociarem isso. Pode haver cedências de ambas as partes, mas também tem de haver concessões".
Em 7 de fevereiro, o Conselho de Ministros decretou uma requisição civil na greve dos enfermeiros, em curso desde 31 de janeiro nos blocos operatórios de quatro centros hospitalares, alegando incumprimento dos serviços mínimos.
A "greve cirúrgica" foi convocada pela ASPE e pelo Sindepor em dez centros hospitalares, até 28 de fevereiro, depois de uma paralisação idêntica de 45 dias no final de 2018.
As duas greves foram convocadas após um movimento de enfermeiros ter lançado recolhas de fundos numa plataforma 'online' para financiar as paralisações, conseguindo um total de 740 mil euros.
Os principais pontos de discórdia são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros.
A requisição civil foi contestada pelo Sindepor no Supremo Tribunal Administrativo, que se deverá pronunciar nos próximos dias.
No final da semana passada, o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República considerou que a greve é ilícita, um parecer que foi de imediato homologado pela ministra da Saúde, ordenando a marcação de faltas injustificadas aos enfermeiros em greve.