A socialista Mariana Vieira da Silva elogia a opção do Governo por não negociar com os bombeiros sapadores num contexto de manifestação violenta. A antiga ministra da Presidência defende que é possível ouvir também as estruturas não-sindicais, desde que não haja violência, apesar da prioridade a dar à audição dos sindicatos.
“Devemos valorizar a representação institucional dos sindicatos, não rejeitando completamente a audição destes movimentos, a não ser em momentos em que a violência sai de todos os limites”, afirma a deputada do PS no programa “Casa Comum”, da Renascença, questionada sobre a resposta das instituições quando confrontadas com protestos não enquadrados pela lei ou pelas entidades de representação sindical dos trabalhadores.
Vieira da Silva considera que o Governo fez bem ao suspender as reuniões “mesmo apesar de conter alguma injustiça, porque os sindicatos não tinham organizado aquelas manifestações”. A dirigente socialista sublinha que a manifestação não foi comunicada à PSP - “nenhuma das regras normais foi cumprida” – depois de ter acontecido um protesto semelhante junto à Assembleia da República.
“Esse é um mundo novo que exige uma grande consistência de resposta dos restantes partidos, o que nem sempre aconteceu nos últimos anos”, observa a antiga ministra lembrando elogios públicos a várias “formas criativas de protesto”.
Ao lembrar audiências concedidas no Parlamento a “movimentos que não cumpriram as regras de manifestação”, Mariana Vieira da Silva considera que partidos como o CHEGA estão a participar no processo democrático “de uma forma que não é institucional”. Sobre esse processo, a dirigente socialista fala na necessidade de “uma grande inteligência, uma grande calma, que nem sempre é fácil” para “não premiar” o discurso e a prática destas organizações.
“Todos devem ser recebidos”
O social-democrata Duarte Pacheco sugere uma reflexão sobre a falta de representatividade de muitos sindicatos que deve partir das próprias organizações de trabalhadores.
“A multiplicação de sindicatos, com direitos para os trabalhadores por terem funções sindicais, faz com que a maioria deles hoje não sejam representativos de ninguém, a não ser praticamente do grupo que está dentro da direção”, exemplifica o antigo deputado do PSD, que defende que “tudo tem que ser repensado” mais por alteração de comportamentos do que por intervenção legislativa.
Sublinhando que o Governo fez bem em interromper o diálogo nesse contexto de violência, Duarte Pacheco defende que os responsáveis políticos “devem receber todos, independentemente do seu grau de organização”, evitando o discurso do ódio e da violência.
O militante social-democrata insiste que o problema está na falta de resposta das instituições sindicais “que continuam a tratar os assuntos como tratavam no século XX, para já não ir ao século XIX”, por contraste com a vontade de muitos trabalhadores “que têm hoje outra pressa em ver os seus assuntos resolvidos e defendidos”. São essas as razões para, na opinião de Duarte Pacheco, os trabalhadores não se reverem nesse tipo de sindicatos e “irem também atrás de líderes muitas vezes populistas”.
A juntar a esta equação, o antigo deputado social-democrata sustenta que as redes sociais “incentivam a violência na manifestação das ideias”, levando á constituição de “movimentos sobretudo inorgânicos, por isso muito mais difíceis de gerir e que radicalizam muito as suas posições”, o que, para Duarte Pacheco, “é negativo para a sociedade”.