“O som faz doer a cabeça”. A reprodução do depoimento de Ricardo Salgado durante o julgamento do BES deu problemas - e não foi só devido ao requerimento apresentado pela defesa do ex-banqueiro para impedir de ouvir as gravações.
As palavras acima foram ditas pela juíza Helena Susano, quando o tribunal tentava reproduzir a sessão de depoimento de Salgado durante a fase de inquérito, com 45 minutos de dificuldades em ouvir as gravações e dificuldades em traduzir as mesmas para os arguidos suíços do processo, Michel Creton e Alexandre Cadosch.
Como alternativa, foi reproduzido outro depoimento, este feito ao Ministério Público - quatro dias antes de ser constituído como arguido, a 24 de julho de 2014 -, desta vez com imagem e som, no qual Salgado explica a história do BES e a sua expansão internacional.
No mesmo, o ex-presidente do BES fala que a “procura era maior que a oferta”: “Não era eu que andava a vender dívida do grupo, mas acontecia porque havia procura. Isso é referido por muitos colaboradores.”~
Salgado adiantou mesmo que, até 2015, nunca tinha sido avisado para consolidar as contas da ESI, a holding que controlava a área financeira e não financeira do Grupo Espírito Santo (GES).
"Nunca tínhamos tido problemas em relação às holdings. A gestão administrativa das holdings era feita à distancia, de tal maneira que assinávamos as atas, as contas eram depositadas no Luxemburgo e durante 40 anos nunca ninguém nos disse que devíamos consolidar as contas. Nunca houve das autoridades luxemburguesas um alerta para consolidar as contas, apesar de a Espírito Santo Financial Group estar dentro da ESI", disse, então, o ex-banqueiro.
A sessão de julgamento retoma esta quinta-feira com a audição de novas gravações, desta vez de António Luís Roquette Ricciardi, falecido em 2022 e pai de José Maria Ricciardi, que será ouvido durante a sessão da tarde.