O partido liderado pela vencedora do Prémio Nobel da Paz de Myanmar (antiga Birmânia), Aung San Suu Kyi, garantiu a maioria absoluta nas eleições de domingo, de acordo com dados oficiais.
A Comissão Eleitoral, que continua a lenta contagem dos votos, confirmou que a Liga Nacional para a Democracia obteve 346 lugares, o que lhe permite governar sozinho, embora a Constituição elaborada pela antiga junta militar confira um papel fundamental ao poderoso Exército, que reserva três ministérios e um quarto do parlamento.
O partido de Suu Kyi conquistou para já mais 24 deputados que os 322 necessários para garantir a maioria nas duas câmaras parlamentares, uma vitória que poderá ainda alargar-se, já que ainda falta apurar o resultado em relação a 64 lugares.
Na quarta-feira, o principal partido de oposição em Myanmar, o Partido da Solidariedade e do Desenvolvimento da União (PSDU), alinhado com o exército, anunciou a rejeição dos resultados "injustos" das eleições gerais de domingo e pediu uma nova votação, numa altura em que as projeções já previam a sua derrota.
Após a sua vitória nas eleições de 2015, que culminaram na transição iniciada cinco anos antes para aquilo a que os militares chamam uma "democracia disciplinada", Suu Kyi foi criticada internacionalmente pelas suas políticas contra a minoria rohinya, mas o resultado nas urnas tem mostrado que a sua popularidade não diminuiu no país.
Além de lhe ter sido retirado o prémio Sakharov, Suu Kyi viu, em fins de outubro, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos expressar preocupação com a violação dos direitos das minorias, nomeadamente com os muçulmanos rohingya, e com a detenção de vários ativistas durante o período pré-eleitoral.
As Nações Unidas também criticaram as autoridades por recusarem a cidadania à grande maioria dos rohingyas, impedindo-os de votar ou de se candidatarem, e por cancelarem “sem justificação compreensível” a votação em 57 municípios, enquanto algumas partes dos estados de Rakhine e Chin sofreram um apagão de Internet decretado pelas autoridades.
Suu Kyi não pode tornar-se Presidente do país porque a Constituição não o permite a quem tenha familiares com passaporte estrangeiro, mas criou o cargo de conselheira de Estado para poder liderar de facto o país.