O PAN criticou esta quarta-feira os gastos em torno da nomeação do comissário executivo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e defendeu que essa organização deveria caber ao Estado, "por via das suas instituições e organismos".
"Quanto à da nomeação em si, entendemos que, num momento em que o país atravessa tantas dificuldades, é manifestamente incompreensível que se despenda este tipo de montantes com alguém para organizar a cerimónia do 25 de abril, quando na verdade deveria ser o Estado, por via das suas instituições e organismos, a garantir essa mesma realização", refere a porta-voz do partido numa nota enviada à Lusa.
O Conselho de Ministros aprovou a 27 de maio a criação de uma estrutura de missão para organizar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que se assinala em 2024, nomeando como comissão executivo Pedro Adão e Silva.
Apontando que o partido não questiona o "currículo e competência da pessoa escolhida" e que a posição "seria a mesma para qualquer outro nomeado", Inês Sousa Real defende que "desviar 300 mil euros, que é quanto parece custar esta nomeação", é algo incompreensível, uma vez que "este valor poderia ser investido em áreas bem mais prementes".
"Para o PAN, não faz qualquer sentido este tipo de cargos, nomeações e gastos", salienta também.
A líder do PAN (eleita em congresso no fim de semana) aponta que "não está em causa de forma alguma a dignidade daquilo que é a celebração dos 50 anos do 25 de Abril".
"Muito pelo contrário, entendemos efetivamente que não só o país deve assinalar esta data histórica, como acima de tudo os valores do 25 de Abril devem ser renovados todos os dias. Renovação essa que deve estar efetivada na garantia do cumprimentos e respeito dos direitos fundamentais, como são os casos do acesso à habitação, ao emprego, à saúde, à educação, entre tantas outras dimensões da nossa vida", sublinha.
A porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza lamenta ainda que, ao fim de quase meio século desde a revolução, mantém-se em Portugal "uma visão sectária da sociedade em relação às questões de género ao não serem chamadas mulheres a celebrar o aniversário das conquistas de Abril".
Pedro Adão e Silva é professor auxiliar do departamento de ciência política e políticas públicas no ISCTE, diretor do Doutoramento em Políticas Públicas da mesma instituição, comentador em vários órgãos de comunicação social e foi membro do Secretariado Nacional do PS entre 2002 e 2004, sob a liderança de Ferro Rodrigues.
A par da estrutura de missão vai funcionar, junto da Presidência da República, uma Comissão Nacional, presidida pelo antigo Presidente da República Ramalho Eanes, que terá a responsabilidade de “aprovar o programa oficial das comemorações e os relatórios de atividades”.
A escolha de Pedro Adão e Silva para estas funções foi contestada também na terça-feira pelos líderes do PSD, Rui Rio, e do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos.
Rui Rio apontou o ex-dirigente socialista como "uma pessoa marcadamente do PS, que aparece nas televisões há muitos anos sempre a defender as posições do Governo e do PS e a atacar permanentemente as oposições" e questionou "para que é que é necessário nomear um comissário executivo com toda esta antecedência para comemorações que vão decorrer em 2024 e com o lugar a terminar em 2026", por um período de "cinco anos e meio, a 4.500 euros por mês".
O presidente do CDS considerou que esta escolha "insulta os portugueses", qualificando Pedro Adão e Silva como "um dos protegidos do 'socialistão', amplamente conhecido enquanto porta-voz da propaganda socialista".
Mais tarde, o primeiro-ministro, António Costa, considerou insultuosas as acusações proferidas pelo presidente do PSD sobre a escolha de Pedro Adão e Silva e o Presidente da República disse que esta opção teve o seu aval e considerou-o "muito consensual".