Cerca de 3.000 cirurgias programadas adiadas e blocos operatórios a trabalhar em serviços mínimos é o balanço da primeira semana da greve cirúrgica dos enfermeiros que termina no final do ano, disse à Lusa uma fonte sindical esta quinta-feira.
"Neste momento temos uma média de 500 cirurgias programadas por dia que estão a ser adiadas e temos todos os blocos a trabalhar praticamente em serviços mínimos", sendo "muitos pontuais as salas que estão a trabalhar com não grevistas", adiantou Lúcia Leite, presidente da Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE), que convocou a greve juntamente com o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).
A dirigente sindical adiantou que a adesão "é praticamente de 100%", mas explicou que o objetivo não é ter todos os enfermeiros de greve: "É ter o número mínimo" necessário para parar os blocos operatórios".
As salas de cirurgia programadas trabalham de segunda a sexta-feira o que significa cerca de 3.000 cirurgias adiadas, explicou.
Na prática todos os blocos estão parados, disse a sindicalista, adiantando que, neste momento, os sindicatos estão "a fazer um esforço para chegar a acordo sobre salas que assegurem as urgências dos doentes internados que iriam fazer cirurgia ao longo das várias semanas.
"São aqueles doentes que não precisam de ser operados no próprio dia em que a situação se declara", mas que têm de o fazer dentro de dois, três, quatro dias, explicou Lúcia Leite.
Os sindicatos estão a garantir que esses doentes têm "uma resposta assegurada com serviços mínimos", o que, disse, vai para além daquilo que o Tribunal Arbitral decidiu.
"O que nós percebemos é que nem as instituições previram situações, como por exemplo a [de] ortopedia, que tem sempre muitas urgências diferidas", salientou.
Neste momento, sublinhou, "estamos a chegar a acordo com as instituições para garantir que esses doentes são operados e que não fica em causa a saúde deles com sequelas permanentes pelo facto de estarmos em greve".
A greve irá manter-se, sublinhou a sindicalista, até que o Governo aceite as condições pedidas. "Quando terminámos a última reunião, no dia 20, fomos informados pela mesa negocial que não haveria negociações enquanto houvesse greve, portanto, depende do Governo se voltamos ou não à mesa de negociações. Não é por nós que não estamos na mesa de negociações", afirmou.
Reiterando que o objetivo não é prejudicar os doentes, Lúcia Leite admitiu que os sindicatos estão à espera de uma reação do Governo.
"Estamos à espera que o Ministério da Saúde ponha a mão na consciência e que estas situações que trazem comprometimento para o cidadão sejam ponderadas", referiu, garantindo que se a proposta do Governo se mantiver "não vai haver acordo".
Os enfermeiros dos blocos operatórios de cinco hospitais públicos iniciaram há uma semana uma greve de mais de um mês às cirurgias programadas, que já adiou milhares de operações.
Em declarações à agência Lusa, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou hoje que a remarcação das cirurgias canceladas ou adiadas nos cinco centros hospitalares onde está a decorrer a paralisação "é prioritária" porque "está a causar prejuízos sérios aos doentes portugueses".
O secretário de Estado disse ainda estar confiante que os sindicatos voltem à mesa de negociações e suspendam esta greve.
"O Governo apresentou uma proposta que pareceu ir muito ao encontro das pretensões dos sindicatos de enfermagem e espera muito confiantemente que essa proposta traga os sindicatos novamente à mesa das negociações, para o qual é indispensável que suspendam esta greve que de facto está a causar prejuízos sérios aos doentes portugueses", salientou.
A tutela assume que a proposta de revisão da carreira especial de enfermagem "constitui a aproximação possível às reivindicações apresentadas" pelos sindicatos, "num contexto de sustentabilidade das contas públicas e equidade social".
A greve está a decorrer no Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), no Centro Hospitalar Universitário do Porto, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e no Centro Hospitalar de Setúbal.
Foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), embora inicialmente o protesto tenha partido de um movimento de enfermeiros que lançou um fundo aberto ao público que recolheu mais de 360 mil euros para compensar os colegas que aderirem à paralisação.