​“O Corcunda de Notre Dame" dispara para o topo das vendas da Amazon
17-04-2019 - 06:44
 • Lusa

A versão cinematográfica da história da Disney também chegou ao top 10 dos filmes da família.

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“O Corcunda de Notre Dame", de Victor Hugo, disparou na terça-feira para o topo da lista de best-sellers da Amazon, ainda os bombeiros amorteciam as brasas do incêndio que devastou a catedral parisiense, noticiou o canal france24, citando a AFP.

A versão francesa original do romance gótico "Notre Dame de Paris" tornou-se o livro mais vendido em França e é também o best-seller número um em inglês, em duas subcategorias de ficção histórica. A versão cinematográfica da história da Disney também chegou ao top 10 dos filmes da família.

Foi para salvar o monumento, fortemente degradado e a desmoronar-se, que Victor Hugo começou a escrever, em 1831, esta obra, descrevendo a catedral, logo no primeiro capítulo, como “majestoso e sublime edifício".

“Sem dúvida, a igreja de Notre Dame de Paris é ainda hoje um majestoso e sublime edifício. Mas por mais bela que seja conservada enquanto envelhece, é difícil não suspirar, e não nos indignarmos perante as degradações, as mutilações sem nome que em simultâneo o tempo e os homens provocaram no venerável monumento, sem respeito por Carlos Magno que colocou a primeira pedra, por Filipe-Augusto que colocou a última”, escreveu.

Nesta obra, considerada o maior romance histórico de Victor Hugo, o escritor narra a história do amor altruísta do deformado sineiro da catedral de Notre Dame, Quasimodo, pela bailarina cigana Esmeralda. Com um estilo realista, especialmente nas descrições de Paris medieval e do seu submundo, o enredo é melodramático, com muitas reviravoltas irónicas.

O romance de Victor Hugo foi publicado pela primeira vez em Portugal, pela casa Bertrand, em 1832, um ano após a edição do original francês, tomando o título “Nossa Senhora de Paris”, de acordo com o catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal.

Desde então, a obra somou diferentes edições e traduções em português, tomando também o título “O Corcunda de Notre-Dame”, sobretudo a partir de 1996, após a estreia do filme de animação homónimo (“The Hunchback of Notre Dame”, no original), produzido pelos estúdios Disney, inspirado na obra do escritor francês.

Esta história, que se tornou um sucesso instantâneo e fez de Victor Hugo o mais famoso escritor a viver na Europa, ajudou a mobilizar a gigantesca restauração do monumento no século XIX.

Uma passagem, do capítulo quatro do penúltimo volume do romance, foi amplamente citada na comunicação social como uma descrição profética do fogo de segunda-feira, que começou no telhado, tendo feito colapsar o pináculo da torre central.

"Todos os olhos estavam voltados para o topo da igreja", escreveu Victor Hugo como se descrevesse os milhões de pessoas que se reuniram ao longo das margens do rio Sena, enquanto a grande estrutura de mais de 850 anos ardia.

Os franceses tendem a recorrer à literatura em tempos de crise nacional, o que já se verificara com as vendas de “A Moveable Feast” (“Paris é uma festa”), ode do escritor norte-americano Ernest Hemingway a Paris na década de 1920, que dispararam após os ataques de novembro de 2015, na capital francesa.

Victor Hugo estabeleceu a sua história romântica em 1482, durante o reinado de Luís XI, mas muito de "O Corcunda de Notre Dame" é uma reflexão sobre a arquitetura do próprio edifício. Muitos críticos argumentam que a catedral é de facto a personagem central do romance.

Noutra famosa passagem da obra, Victor Hugo lamenta que aquele marco medieval no coração de Paris tivesse sido deixado ao abandono a desmoronar-se.

Ativista incansável, Victor Hugo - que muitos consideram o padrinho intelectual da União Europeia - viveu para ver a restauração maciça da catedral, concluída pelos arquitetos Jean-Baptiste-Antoine Lassus e Eugene Viollet-le-Duc.

Victor-Marie Hugo foi um novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista francês pelos direitos humanos de grande atuação política em seu país. É autor de "Les Misérables" (“Os Miseráveis”), entre diversas outras obras clássicas de renome mundial.

Notre-Dame encontrava-se em obras de restauro no exterior quando, na segunda-feira à tarde, deflagrou um violento incêndio que demorou cerca de 15 horas a ser extinto.

A Procuradoria de Paris disse que os investigadores estavam a considerar o incêndio como um acidente.