O secretário-geral do PS considera que, "felizmente", já nem os mercados financeiros "dão ouvidos" ao primeiro-ministro e à ministra das Finanças, contrapondo que reina a "tranquilidade" nas instituições internacionais perante a formação de um executivo socialista.
António Costa fez esta afirmação na parte final do discurso que proferiu num plenário de militantes do PS/Lisboa, em que nunca se referiu ao papel do Presidente da República na presente conjuntura política.
De acordo com o líder socialista, após o Parlamento ter reprovado o programa de Governo da coligação PSD/CDS, "a reacção da direita tem sido destemperada".
Mas mais, segundo António Costa: Pedro Passos Coelho e a ministra das Finanças, "em Portugal, no estrangeiro, ou junto das instituições financeiras, "de forma absolutamente leviana, andaram a criar uma ideia sobre o país que, se alguém tivesse levado a sério, teria afectado gravemente os interesses nacionais".
"Felizmente, já nem os mercados lhes dão ouvidos. Apesar dos grandes esforços que [Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque] têm feito, temos ouvido a Comissão Europeia com uma posição serena - e só impaciente por não haver condições de haver um Governo que apresente um Orçamento -, temos ouvido palavras de tranquilidade do insuspeito ministro das Finanças alemão sobre o processo político em Portugal e temos o presidente do Eurogrupo e as agências de rating tranquilos", referiu o líder socialista.
António Costa disse depois que, na presente conjuntura política do país, "só não estão tranquilos aqueles que não perceberem que, depois de perderem a maioria nas eleições, também não foram capazes de criar condições para governar".
"Estão intranquilos aqueles que, tendo perdido a maioria, se recusam a mudar a sua orientação política, como é a vontade da maioria muito clara dos portugueses. A esses nós dizemos: Temos muita pena que estejam assustados, mas nós, PS, assumimos plenamente as nossas responsabilidades e iremos assegurar a mudança que os portugueses votaram e a estabilidade que Portugal precisa", declarou.
Na sua intervenção perante os militantes do PS, António Costa procurou justificar detalhadamente os motivos dos acordos políticos e programáticos que celebrou com o Bloco de Esquerda, PCP e "Os Verdes", tendo em vista a formação de um executivo socialista, assim como as razões que levaram a direção deste partido a recusar-se a viabilizar o Governo PSD/CDS.
"Aquilo que verdadeiramente enfurece a direita é perceber que, quando derrubámos o muro da esquerda, quando acabámos com esse tabu da esquerda, tal significou que as possibilidades que os portugueses passaram a dispor para a formação de governos são agora maiores e, acima de tudo, que o PS não está condenado ou a ter maioria absoluta ou a servir de muleta para a governação da direita", disse, recebendo palmas dos militantes socialistas.
Neste contexto, António Costa recordou depois que se iniciou na vida política num período em que o PS estava em acesa luta com o PCP e com a extrema-esquerda em 1975.
"De uma vez por todas, é preciso dizer o seguinte: O que aconteceu há 40 anos aconteceu há quatro décadas, e 40 anos depois o país e o mundo não são os mesmos", vincou.
Já sobre os acordos celebrados com a esquerda, Costa advogou que essas negociações com o Bloco, PCP e "os Verdes" não visaram a fusão dos partidos "e nem sequer foi um entendimento para uma coligação de Governo", tendo assentado apenas no princípio pragmático de reconhecimento das diferenças entre as várias forças políticas.
"Para além do muito que nos distingue, temos de ser capazes de nos entender sobre o que é essencial e urgente para virar a página da política em Portugal e criar uma alternativa de Governo no país", sustentou.
Depois, num recado ao PSD e ao CDS, disse: "Bem podem todos os dias apresentar no parlamento as resoluções que entenderem para procurar encontrar contradições entre o PS e os partidos à sua esquerda, porque essas diferenças existem, ninguém as quer disfarçar, nem ninguém quer eliminá-las".
"A negociação entre PS e a restante esquerda foi bem distinta da história da relação entre PSD e CDS. Aqui, o PCP não teve de dar uma cambalhota para, de um dia para o outro, passar de campeão da defesa do escudo para se tornar no cristão-novo da defesa do euro. Aqui ninguém teve de revogar o irrevogável para arranjar um lugarzinho no Governo", declarou, numa alusão crítica ao CDS-PP.