No programa Conversas Cruzadas desta semana o sociólogo e ex-líder da CGTP, Carvalho da Silva e o professor universitário Nuno Garoupa debateram a reestruturação da Caixa Geral de Depósitos e uma eventual Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a pedido do PSD. Ambos concordam com a necessidade de investigar o que aconteceu na CGD. O referendo no Reino Unido sobre a manutenção na União Europeia foi o outro tema do debate.
Nuno Garoupa lamenta que os partidos da esquerda parlamentar – PCP e Bloco de Esquerda – rejeitem uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Caixa Geral de Depósitos. “É uma fotografia em que todos estão mal. E, sinceramente, não entendo como os partidos de esquerda não querem uma CPI e todas as responsabilidades daí decorrentes.”
“Em relação à direita, presumo que a CPI vem daquilo que é uma estratégia que o PSD tem vindo a fazer, mas evidentemente que a direita teve um comportamento bastante chocante na última semana que foi fingir que não sabe como isto aconteceu. Enfim, todos percebemos que a direita esteve sentada em cima do problema durante quatro anos e meio e não fez nada”, defende Nuno Garoupa.
O sociólogo Manuel Carvalho da Silva concorda com uma CPI afirmando que é “imprescindível a entrada da justiça”, mas admite que o processo pode esbarrar no segredo de justiça à semelhança do que aconteceu no caso BPN e actualmente no Banif.
Um problema que para Nuno Garoupa pode ser ainda mais grave. O professor universitário lembra que “mais uma vez a pergunta é: onde estava e onde está o regulador e atinge também o sistema de justiça. As imparidades de 2,3 mil milhões são casos de polícia. E são casos de polícia que aconteceram em 2006, 2007, 2008 e que, portanto, já entram em questões de prescrição.”
O ex-líder da CGTP defende que a situação na CGD deve servir para repensar todo o sistema: “a regulação, o banco público, o saneamento do sector e como nos posicionamos sobre as práticas comunitárias.”
Brexit: o que é feito da Europa?
A menos de uma semana do referendo no Reino Unido à permanência do país na União Europeia, Carvalho da Silva sublinha que a questão é mais profunda do que a decisão isolada de um dos Estados Membros. “A UE está em profunda crise”, sublinha o sociólogo, para quem este referendo é sinal de que “algo precisa de mudar”.
A consulta popular do próximo dia 23 levanta, para Nuno Garoupa, outra questão: o facto de o Reino Unido vir a utilizar, no futuro, o referendo como instrumento de chantagem com a União Europeia. Para o presidente da comissão executiva da Fundação Francisco Manuel dos Santos “[David] Cameron já obteve concessões dos seus parceiros da UE só por convocar o referendo”.
Garoupa lamenta ainda que Portugal não tenha feito qualquer estudo sobre o impacto do resultado do referendo no Reino Unido á semelhança do que aconteceu na Bélgica, Espanha ou Holanda.
“Nem o Governo anterior nem o actual fizeram qualquer estudo de impacto público sobre as consequências do referendo para a economia portuguesa. O que mais uma vez significa que as discussões são baseadas em meras especulações”, lembrando que o referendo foi anunciado há dois anos.