O novo arcebispo de Évora rejeitou este domingo o “legalismo religioso” que “deturpa e caricaturiza a verdadeira relação com a beleza de Deus”, e criticou “atitudes fundamentalistas” que aconteceram “na história e na atualidade” da Igreja.
“O legalismo religioso deturpa e caricaturiza a verdadeira relação com a beleza de Deus; no seu entendimento, cumpridas todas as regras e prescrições, Deus seria apenas chamado para apreciar e testemunhar o nosso esforço e para nos atribuir o prémio que reclamamos. Este orgulho leva à soberba da auto-suficiência, da auto-contemplação e da auto-salvação”, afirmou D. Francisco Senra Coelho durante a homilia da celebração da sua entrada solene na arquidiocese de Évora.
Numa reflexão feita a partir das leituras da Eucaristia, o prelado lamentou que “atitudes fundamentalistas, soberbas, hipócritas e até violentas” reconhecidas “na história e na atualidade”.
“A Igreja eborense revê-se no chamamento de Deus à humildade, à fidelidade e ao serviço”, destacou, sublinhando a busca pela transparência, pela “verdade, pela coerência”.
“Seremos Igreja acolhedora, uma família em tenda alargada; disponível e preparada para acolher todos os que chegam feridos pela vida, deserdados pelo abandono e, por isso, buscam uma porta aberta de assumida humanização”.
Manifestando a sua “comunhão” com o Papa Francisco na “renovação da Igreja”, o arcebispo de Évora afirmou-se chamado a cultivar a proximidade com as periferias, “a acolher, consolar, cuidar e integrar nas nossas comunidades os que chegam feridos” pela “desumanidade do mundo”.
“Comigo, a Igreja eborense, neste momento e sempre, se une ao Papa, em profunda comunhão e o coloca na sua permanente oração, confiante nos esforços empreendidos em mostrar ao mundo uma Igreja acolhedora, familiar, transparente e coerente”.
Numa linha programática, o novo arcebispo afirmou a importância do “estudo, formação e ação”, valorizando a “partilha da Palavra, na Lectio Divina e no compromisso fraterno e comunitário”.
O prelado lembrou o pedido dos jovens para uma Igreja “familiar, transparente e coerente” e afirmou-os o “presente da Igreja”.
“Caros jovens, os sinais dos tempos convidam-nos a alargar horizontes de dádiva de vida e serviço voluntário, vós não sois só a Igreja de amanhã, sois já hoje, o rosto jovem, primaveril, criativo e esperançoso da Igreja em renovação. Vós, jovens, tendes voz e insubstituível lugar na Igreja, pois sois Igreja”.
O arcebispo pediu ainda que a Igreja, “de mãos dadas pela paz, tolerância e no respeito”, saiba “construir a casa comum”, num compromisso com uma “cultura ecológica global” de forma a “olhar o futuro com esperança”.
Com renovado entusiasmo, e em Ano Missionário, “peçamos graças para continuarmos a ser Igreja em saída”.
“Que ninguém se sinta inútil e incapaz, pois todos sabemos amar e fazer o bem”.
Durante a homilia, D. Francisco Senra Coelho saudou ainda os seus antecessores: o agora bispo emérito de Évora, D. José Alves, bem como a sua decisão de permanecer na arquidiocese, e lembrou D. Maurílio Gouveia, manifestando a sua proximidade numa altura de “sofrimento”.
O novo arcebispo dirigiu ainda palavras às autoridades civis manifestando a sua intenção de “dialogar e cooperar na edificação do bem comum, a favor da população”.
Na homilia, D. Francisco Senra Coelho quis ainda saudar a sua mãe, com 83 anos, presente na Sé de Évora.
O prelado saudou ainda o bispo D. Celso Morga Iruzubieta, de Mérida-Badajoz, da vizinha Espanha, e D. Ildo Fortes, bispo do Mindelo, Cabo-Verde, presentes na celebração.
Durante a celebração da sua entrada solene na arquidiocese de Évora, o arcebispo recebeu o palio das mãos do núncio apostólico D. Rino Passigato.
“Que o pálio que recebi me faça lembrar sempre as ovelhas mais frágeis e carentes”, assumiu na homilia.