Tudo levava a crer que o discurso de António Costa em Coimbra, esta segunda-feira, seria mais do mesmo. Ou seja, o apelo ao voto e as cautelas com as sondagens, a divisão de voto entre os que querem um governo do PS e os que não querem, a defesa de que o Governo cumpriu aquilo a que se comprometeu. Porém, o líder socialista saiu do texto habitual.
A linha de raciocínio foi a de que o PS não fecha as portas ao diálogo a ninguém: "nunca" o PS se fechou "nessa maioria" que constitui a actual "solução política que provou produzir boas políticas, que produzem bons resultados".
Ora, uma "maioria no parlamento é fundamental, mas o Parlamento não é o único órgão de soberania em Portugal", e aqui começou o miolo do discurso. Costa sustentou que "nunca" quebrou "o diálogo com os outros órgãos de soberania" e que "nunca" quebrou "o diálogo com o poder judicial".
O secretário-geral socialista deu a garantia de que "sempre" respeitou o poder judicial "em todas as circunstâncias" e não "ao sabor da conveniência ou da oportunidade eleitoral" do PS. É, resume Costa, um respeito que existiu "desde sempre e para sempre".
Juras que se estenderam à promoção do "diálogo social, à concertação social, à negociação colectiva", acrescentando-se que "também" houve "diálogo e o respeito da compatibilização de uma maioria que existia na Assembleia da República com uma maioria distinta representada pelo Presidente da República".
Com a ministra da saúde, Marta Temido, presente no pavilhão dos Olivais, em Coimbra, Costa fez questão de dizer que "sem o PS não teria sido aprovada uma nova lei de bases da saúde no Parlamento, mas também sem o PS não estaria em vigor uma lei que não tivesse sido vetada pelo Presidente da República", vincando a referência a Marcelo Rebelo de Sousa.
Tudo para resumir que "é essa capacidade de diálogo, é esse sentido de compromisso, é esse sentido de equilibrio que só o PS assegura" e, por isso, a nova lei de bases "não foi uma bravata política, é uma lei quer aí está aprovada e que vai entrar em vigor".
Na sala estava Manuel Alegre, o histórico socialista e ex-deputado, que já antes tinha discursado elogiando a ministra da saúde e a nova lei de bases da saúde. E foi para Alegre uma das referências de Costa, numa parte do discurso profundamente ideológica e de regresso ao passado.
Para aprofundar a tese de que este Governo também cumpriu o diálogo sem exceções, o líder do PS disse que há quatro anos foi "preciso derrubar o último muro que a história" deixou ao PS, e que "dividia a esquerda". Esquerda essa que "quis destruir" o PS em 1975, o que não aconteceu "graças a Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre", salvando assim "a revolução portuguesa".
A sala cheia, mas não tão apinhada como na campanha de há quatro anos, vibrou com esta referência. Costa terminou o raciocínio dizendo que o combate exigiu agora "a convergência de vontades e a mobilização de uma força nacional", que afirmou a "vontade maioritária do povo" de "acabar com o austericídio".
E tudo terminou com o hino nacional, "A Portuguesa", não sem antes o líder socialista apelar ao voto no PS e pôr a "cruzinha no quadradinho onde está a mãozinha", o símbolo clássico do partido da mão fechada.