A União das Misericórdias diz estar disponível para acolher beneficiários da ADSE, caso a rutura com os grupos privados de saúde seja definitiva. Porém, alerta que não tem capacidade para receber todos os doentes.
"As Misericórdias estão disponíveis para acolher os portugueses, nós existimos por causa disso. Agora, não pensem que as Misericórdias resolvem os problemas todos das pessoas que lá vão. Não é possível. Estamos a falar de mais de um milhão de pessoas”, diz Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias, à Renascença.
Manuel Lemos acusa a ADSE de também não cumprir acordos com o setor social. Tratam-se de situações pontuais que, diz, retiram capacidade para absorver a totalidade de utentes que o fim das convenções pode afetar.
“É importante que a ADSE também olhe um bocadinho para dentro e perceba que, por exemplo, se cumprisse os acordos que celebrou com o setor social também haveria mais unidades a funcionar”, afirma.
O presidente da União das Misericórdias alerta ainda que o Sistema Nacional de Saúde não tem capacidade para resolver a situação e apela, por isso, ao entendimento entre as três partes: Governo, ADSE e privados. "O que faz sentido é que conversem umas com as outras e resolvam o problema das pessoas. Isto tem que se resolver”.
"Em alguns casos os privados preparam-se muito para esta situação e não é fácil substituí-los, sobretudo de um momento para o outro. Acho que demoraria anos para substituir a capacidade instalada que eles têm no terreno. É preciso termos a consciência de que não vai ser fácil e vai criar grandes problemas aos cidadãos”, constata Manuel Lemos.
Na segunda-feira, a José de Mello Saúde formalizou a suspensão da convenção com a ADSE para prestação e cuidados de saúde aos seus beneficiários em toda a rede CUF, podendo evoluir para denúncia definitiva da convenção.
Terça-feira foi a vez do grupo Luz Saúde comunicar aos seus colaboradores o fim das convenções com o subsistema de saúde da função pública a partir de 15 de abril.
Já no final de dezembro, a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada revelou que alguns prestadores admitiam deixar de ter convenção com a ADSE, após esta ter exigido 38 milhões de euros por excessos de faturação em 2015 e 2016, pedindo a anulação desse processo ao Governo.
Os membros do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE reuniram-se na terça-feira e aprovaram, por unanimidade, uma resolução onde apela para um “urgente diálogo” entre os prestadores de saúde e o conselho diretivo do instituto público.