Os mistérios do gabinete de Galamba
22-05-2023 - 06:00

A Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP não é um tribunal nem dispõe de meios de investigação. Tarefa que o Ministério Público e a Polícia Judiciária já desencadearam. Deste caso também sai ferido o SIS, que não é um órgão de polícia.

Na semana passada as audições da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI), em transmissões diretas pela televisão, trouxeram a público versões contraditórias. Mas a CPI não é um tribunal nem dispõe de meios de investigação. Por isso não é uma via ideal para apurar a verdade. O Ministério Público e Polícia Judiciária já desencadearam uma investigação sobre esta matéria – esperemos pelas suas conclusões.

O que não implica que, desde já, não seja possível adiantar algumas ideias. O que se passou no ministério das Infraestruturas foi “deplorável”, reconheceu o primeiro-ministro. João Galamba, ministro das Infraestruturas, apresentou a demissão, que foi recusada por António Costa. O Presidente da República discordou publicamente dessa recusa de A. Costa, mas só se dissolver a atual composição da Assembleia da República poderá fazer prevalecer a sua posição. Uma vez que agora existe uma maioria parlamentar absoluta do PS, uma medida drástica como essa comporta óbvios e graves riscos políticos, por isso Marcelo Rebelo de Sousa pondera e hesita.

Mas o que se viu e se ouviu, mesmo sem apurar quem diz a verdade e quem mente, revela um ministério, o das Infraestruturas, disfuncional na sua cúpula, o Gabinete do ministro. O “mau da fita”, o ex-adjunto Frederico Pinheiro, estava há muitos anos naquele cargo; de repente, aos olhos do atual ministro e da sua poderosa Chefe de Gabinete, tornou-se um vilão culpado das piores vilezas, desde agressor de mulheres a ladrão e até espião (vinha a horas mortas ao gabinete copiar documentos, sabe-se lá para quê, afirma a Chefe do Gabinete do ministro...). Se era assim tão mau, porque não o afastou antes J. Galamba?

Entretanto, deste caso também sai ferido o Sistema de Informações da República, que não é um órgão de polícia e depende do primeiro-ministro. Parece que foi a Chefe de Gabinete de J. Galamba quem chamou o SIS para recuperar um computador, que estaria nas mãos de Frederico Pinheiro, após ter sido demitido de adjunto do gabinete por um telefonema de Galamba.

Mas, se houve um “roubo” desse computador, como alegam a Chefe de Gabinete e o ministro Galamba, então o SIS não deveria ter aceite o encargo, por estar fora das suas competências. O responsável governamental pelo SIS é o primeiro-ministro, que teria sido informado do seu envolvimento dos serviços de informação neste caso, mas não reagiu para travar esse envolvimento. Mais um mistério a esclarecer.