A Obra Católica Portuguesa das Migrações saúda a investigação que permitiu o desmantelamento de uma alegada rede de tráfico de jovens que estavam ao cuidado de uma academia de futebol em Riba d'Ave.
Em declarações à Renascença, esta quarta-feira, a diretora da OCPM, Eugénia Quaresma, lembra os sucessivos alertas para a existência do fenómeno e adianta que "parece que estamos a despertar para esta realidade".
A responsável refere que “estamos a ser capazes de investigar e é bom termos investigadores, quer do lado da comunicação social, quer do lado das polícias, para investigar estas situações e para constituir prova”, porque “é importante o desmantelamento deste tipo de redes”.
Eugénia Quaresma recorda que a própria Comissão de Apoio à Vítima de Tráfico de Pessoas (CAVITP), que é constituída por diversas congregações religiosas, “quando ia às escolas fazer ações de sensibilização, falava na questão do desporto, e de como o desporto é um aliciador para estas situações”.
“É triste, é um choque, mas é importante que isto seja desmantelado, e, portanto, é fundamental que possamos alertar os nossos jovens e também as famílias que por vezes se possam deixar enredar.”
A Obra Católica Portuguesa das Migrações integra a Comissão de Apoio à Vítima de Tráfico de Pessoas, que discutiu o caso de Riba d’Ave na sua reunião desta quarta-feira.
“Falamos do quão chocante é este tipo de casos e de como é importante haver canais de denuncia e falar dos sinais de alerta”, revela.
Eugénia Quaresma recorda que “por lei os nossos documentos pessoas não podem ficar retidos e quando há privação de movimentos e as pessoas ficam confinadas a um espaço isso também não pode acontecer”, invocando "sinais de alerta para que haja uma denúncia, que deve ser feita às instituições oficiais”.
A responsável reconhece que o mediatismo do futebol não ajuda à denúncia e pede, por isso, redobrado esforço para “se evitar o aliciamento dos jovens que veem atrás de um sonho ou à procura de melhores condições de vida”. A responsável afirma que “este tipo de casos nos ensina também a ser precavidos em relação aos sonhos, ainda que estejam ligados a um clube ou a uma agência”.
Nestas declarações à Renascença, a diretora da Obra Católica das Migrações recorda que o Vaticano publicou, em 2019, as orientações pastorais sobre o tráfico de seres humanos em que chama a atenção para o facto de “ainda estarmos no início do trabalho de combate a este fenómeno”.
“É um documento que temos à nossa disposição e que nos diz que o trabalho que possamos fazer está muito no início e implica uma transformação das nossas estruturas e da nossa maneira de funcionar enquanto sociedade que está muito assente na exploração”, acrescenta. “Combater isto exige uma conversão de coração, uma conversão de mentalidades e uma orientação também dos nossos sonhos”, remata.