Em Portugal, existem nove locais contaminados com substâncias químicas ligadas a doenças como o cancro, revela um projeto de mapeamento desenvolvido pelo Grupo de Trabalho Ambiental (EWG), com sede nos Estados Unidos, divulgado esta quinta-feira porum consórcio de investigação e jornalismo europeu.
Em causa estão as perfluoroalquiladas, conhecidas como PFAS, ou, mais informalmente, como “substâncias químicas eternas” que ainda são usadas em vários produtos e não se decompõem no ambiente.
Estes químicos "eternos", que se acumulam no corpo e podem ser tóxicas, foram encontradas em águas, solos e sedimentos de vários países da União Europeia e do Reino Unido.
O projeto revela que, em Portugal, foi identificada uma contaminação igual ou superior a 10 nanogramas por litro de água (n/l) em:
- Bravães (Ponte da Barca, 190 ng/l);
- Praia Pontilhão da Valeta (Arcos de Valdevez, 160 ng/l);
- Penide/Areias de Vilar (Barcelos, 350 ng/l);
- Albufeira de Crestuma-Lever (Vila Nova de Gaia, 460 ng/l);
- Montemor-o-Velho (240 ng/l);
- Muge (Salvaterra de Magos, 3200 ng/l);
- Ribeira Vale do Morto (Elvas; 10 ng/l);
- Monte da Vinha (Elvas; 750 ng/l);
- Ermidas do Sado (Santiago do Cacém, 450 ng/l).
Segundo o estudo, as PFAS têm, desde os anos 40, sido amplamente utilizadas em muitos produtos que fazem parte do nosso dia-a-dia, como panelas antiaderentes, embalagens de alimentos, tapetes, mobiliário e espuma de combate a incêndios.
Concentrações são preocupantes, dizem especialistas
Para especialistas em química ambiental, “estes tipos de concentrações suscitam preocupações".
Em declarações ao jornal britânico "The Guardian", Crispin Halsall, professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, disse que "há o risco de o gado ter acesso a essas águas” representando o perigo de estas substâncias entrarem na rede alimentar humana".
Nas águas subterrâneas, estas substâncias constituem "um grande problema", uma vez que estas reservas são frequentemente captadas para a agricultura ou, pior ainda, para consumo humano, sublinha.
Para Ian Cousins, cientista ambiental da Universidade de Estocolmo, os locais com leituras superiores a mil nanogramas por quilo deveriam ser "urgentemente avaliados".
Outro imperativo é garantir que os níveis de PFAS são seguros nos produtos locais, o que ajudaria a determinar se são necessários conselhos de saúde locais e campanhas de publicação para desencorajar o consumo regular de peixe selvagem, marisco ou ovos de galinhas ao ar livre", adiantou o jornal.
Impacto na vida selvagem
A presença destas substâncias no ambiente representa também perigo para a vida selvagem, sobretudo para 330 espécies, entre elas ursos polares, tigres, macacos, pandas, golfinhos, aves e peixes.
O estudo identificou mais de 120 compostos únicos em diversas espécies, incluindo algumas que se encontram ameaçadas ou em perigo de extinção.
No Reino Unido, por exemplo, a análise destacou a contaminação por PFAS em lontras europeias, uma espécie protegida, e em aves marinhas que vivem ao largo das costas leste e oeste da Escócia.
“O mapa do EWG reflete exatamente o que sabemos agora: dada a extensão da poluição PFAS, a vida selvagem em todo o mundo está a ser ameaçada”, advertiu o estudo do grupo sem fins lucrativos, que apelou a uma ação reguladora nacional e internacional urgente para proteger a vida selvagem da contaminação por PFAS.
A revelação do mapa da contaminação com as substâncias químicas “eternas” acontece poucos dias depois de a União Europeia anunciar a intenção de proibir as PFAS a partir de 2026, ou no ano seguinte.