Cerca de dois mil hondurenhos, que partiram no sábado do seu país, continuam a sua marcha através da Guatemala em direção ao México, com destino aos Estados Unidos.
Depois de terem passado a noite num albergue da Igreja Católica na capital guatemalteca, estão apostados em percorrer os 250 quilómetros que os separam ainda da cidade de Tecun Uman, na fronteira com o Estado meridional mexicano de Chiapas.
O êxodo prossegue em condições difíceis, sobretudo para as muitas crianças, com chuva incessante nos últimos dias.
Alguns migrantes brandem bandeiras das Honduras, enquanto outros empurram os mais pequenos em carrinhos de bebé.
"Continuamos a lutar", garante Yarelin Pineda, uma mãe solteira que partiu com a filha de três anos. Originária de Tegucigalpa, sem emprego, ela explica que mal sobrevivia a fazer bolos de milho e a lavar a roupa dos vizinhos.
"A ideia é continuar e ver até onde conseguimos chegar hoje", acrescenta José Medina, apoiado em muletas devido a uma entorse num pé.
O carpinteiro de 27 anos deixou a mulher e os três filhos no departamento de El Progreso, no norte das Honduras, e magoou-se ao saltar de um camião que lhe tinha dado boleia.
Os migrantes caminhavam hoje pela estrada, no meio de automóveis e camiões, em pequenos grupos exaustos, com crianças, bebés e grávidas.
Alguns automobilistas deram-lhes dinheiro, enquanto os habitantes das localidades por onde passavam lhes deram água e comida.
"Nós vamos tentar entrar [nos Estados Unidos]. Talvez o coração deles amoleça e eles nos deixem entrar", disse o carpinteiro, quando o Presidente norte-americano, Donald Trump, quer a qualquer preço impedir estes migrantes de entrar no seu país.
Várias centenas de migrantes chegaram na quarta-feira à noite a Tecun Uman, na fronteira da Guatemala com o México: "Vamos descansar aqui, enquanto esperamos a chegada dos outros que estão a caminho, para entrarmos em bloco [no México], como fizemos na fronteira de Agua Caliente", entre as Honduras e a Guatemala, explica Edgar Elias, um dos líderes da caravana.
Na fronteira entre as Honduras e El Salvador, centenas de migrantes hondurenhos forçam também a passagem, em pequenos grupos, alguns desafiando as águas do rio fronteiriço de Goascorán, perto de El Amatillo, 200 quilómetros a oeste de San Salvador.
Todos querem juntar-se aos compatriotas na fronteira mexicana e seguir caminho até aos Estados Unidos.
Hoje, Trump ameaçou fechar a fronteira com o México se o país não detiver a marcha dos migrantes.
"Eu devo, nos termos mais firmes, pedir ao México para deter esta marcha. Se o México não fizer isso, pedirei ao exército para FECHAR A NOSSA FRONTEIRA SUL", escreveu na rede social Twitter o Presidente norte-americano, que teme perder a maioria que detém nas duas câmaras do Congresso nas eleições intercalares de novembro.
O México anunciou hoje que vai pedir apoio à ONU para gerir os pedidos de asilo que possam ser apresentados pelos milhares de membros da caravana de migrantes hondurenhos que começam a chegar à fronteira sul do país.
"Vamos pedir às Nações Unidas a sua colaboração, o seu apoio, para o processamento de pedidos de asilo que possam ser apresentados pelos elementos da caravana de migrantes hondurenhos que se aproximam da fronteira entre o México e a Guatemala", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano, Luis Videgaray, à imprensa, antes de se reunir, em Nova Iorque, com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Videgaray desvalorizou as ameaças de Trump de encerrar a fronteira sul do país no caso de a caravana continuar o seu trajeto, atribuindo-as ao "contexto eleitoral" que se vive nos Estados Unidos.
Trump acusou também hoje os democratas de quererem abrir as fronteiras e deixar, assim, entrar "muitos criminosos" procedentes da Guatemala, das Honduras e de El Salvador e reiterou também as suas ameaças de cortar a ajuda financeira a esses três países se eles não detiverem o êxodo em curso.
O secretário de Estado, Mike Pompeo, encontra-se hoje no Panamá e na sexta-feira viaja para o México, num périplo centrado nos problemas migratórios.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) apelou para "o respeito dos direitos de todos os migrantes e particularmente dos mais vulneráveis".
Mais de 500.000 pessoas atravessam a cada ano ilegalmente a fronteira sul do México para tentarem em seguida chegar aos Estados Unidos, segundo números da ONU.