O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, estranha que se avalie a importância da Jornada Mundial da Juventude "numa perspetiva de custo-benefício".
"É tudo o que as sociedades não precisam", alerta o ministro, em declarações à Renascença, após o discurso do Papa Francisco na Universidade Católica.
"Estes dias interpelam os crentes e não-crentes", sustenta Adão e Silva.
"Há uma dimensão espiritual e não-material que é necessária na nossa vida. É com surpresa que vejo a leitura e análise da JMJ numa perspetiva custo-benefício material. Não é o que está em causa, é o que acrescenta às nossas vidas. Mesmo aos não-crentes, como é o meu caso", começa por dizer.
O ministro afirma que "é uma ideia muito poderosa que precisamos de um conceito de virtude, de bem comum, que não pode ser só o conjunto das nossas escolhas individuais. Coloca o foco na dignidade humana, na empatia com o outro. É reconfortante e desafiador. É com muita alegria que eu, que não sou crente, ouvi as palavras do Papa".
Pedro Adão e Silva sublinha ainda o perigo da análise da Jornada Mundial da Juventude ser feita apenas na perspetiva do custo-benefício.
"Vivo junto ao Parque Eduardo VII, acho extraordinária a presença de tanta juventude, que se mobiliza num caminho com uma meta e uma mensagem de esperança que tem preocupações imateriais. Sublinho que me causa surpresa que todos cedamos à ideia que avaliamos a JMJ na perspetiva custo-benefício. É exatamente o que as sociedades não precisam. Precisamos de um olhar espiritual, imaterial e uma ideia de virtude que nos junte uns aos outros", atira.
O Papa Francisco lançou vários desafios aos jovens para o futuro do mundo. Adão e Silva encara como "um desafio para todos: a ideia de comunidade, pertença, um bem partilhado".
"Como nunca, é fundamental a ideia de contrariar a fragmnentação. A cultura, e eu como ministro, não posso deixar de assinalar que tem um papel fundamental", explica.
Desde o seu primeiro discurso, na quarta-feira, que o Papa Francisco tem citado várias figuras da cultura portuguesa. Adão e Silva elogia as escolhas de alguns autores com "história com a Igreja".
"Acho extraordinário o Papa trazer tantos autores portugueses. Hoje o Almada Negreiros e de novo Sophia de Mello Breyner, ontem o Daniel Faria e Saramago de forma surpreendente, conhecendo a história do José Saramago com a Igreja. É uma mensagem de união e concórdia. Os nossos dias precisam mesmo disso", termina, em declarações à Renascença.