Os líderes da contestação no Sudão terão conversações com dirigentes militares, que até agora se recusaram a transferir o poder para uma autoridade civil, disse à agência France Press um líder da Aliança para a Liberdade e Mudança.
Essas negociações serão realizadas um dia antes do anúncio, pelo movimento de contestação, da formação de um "conselho civil para os assuntos do país" para substituir o conselho militar de transição, no poder desde a queda, a 11 de abril, do presidente Omar al-Bashir, na sequência da contestação popular.
"O conselho militar terá conversações com a Aliança para a Liberdade e Mudança (ALC) no dia de hoje pelas 20 horas [locais] (19h em Lisboa]", disse hoje à agência France Press Siddiq Youssef, responsável da ALC que reúne vários partidos políticos e grupos da sociedade civil que lideram a contestação.
Um membro da associação de profissionais do Sudão (SPA), o grupo na linha da frente do protesto que decorre no Sudão desde 19 de dezembro, confirmou as negociações nas próximas horas.
"Cinco representantes da Aliança vão hoje reunir-se com o conselho militar para discutir a transferência do poder para uma autoridade civil", disse Ahmed al-Rabia à AFP.
Se os dirigentes militares se recusarem a entregar o poder, os líderes da contestação anunciarão no domingo um "conselho civil soberano", explicou.
"Se eles quiserem negociar, o anúncio marcado para amanhã poderá ser adiado", acrescentou Ahmed al-Rabia.
No dia 11, o ministro da Defesa do Sudão, Awad Ahmed Benawf, surgiu em uniforme militar na televisão pública sudanesa e anunciou a destituição de al-Bashir e a realização de "eleições livres e justas" após um período de transição de dois anos, durante o qual o país será governado por um conselho de transição militar.
Os militares decretaram estado de emergência para os próximos três meses, suspenderam a Constituição e fecharam as fronteiras e o espaço aéreo do país.
Omar al-Bashir foi destituído e detido pelas Forças Armadas, depois de mais de quatro meses de contestação popular.
Os protestos, inicialmente motivados pelo aumento dos preços do pão e de outros bens essenciais, acabaram por transformar-se num movimento contra Al-Bashir, que liderava o país desde 1989, quando chegou ao poder através de um golpe de Estado.