Dois especialistas concordam com a decisão de só serem realizadas cirurgias ao cancro da mama em unidades de saúde com maior experiência e meios, mas temem que esta decisão acabe por atrasar ainda mais as listas de espera.
Por decisão da Direção Executiva do SNS, a partir desta segunda-feira só podem fazer cirurgia ao cancro da mama os hospitais que tenham mais de 100 cirurgias/ano e pelo menos dois cirurgiões. O objetivo é dar uma resposta "mais diferenciada" em hospitais com mais experiência.
Há sete unidades locais de saúde que suspendem a atividade cirúrgica: Oeste; Cova da Beira; Guarda; Castelo Branco; Baixo Mondego; Barcelos/Esposende e Nordeste.
À Renascença, o presidente do Colégio de especialidade de oncologia da Ordem dos Médicos refere que concorda com a medida e que se deve "promover que as cirurgias de cancro devem ser feitas em locais com experiência suficiente para os melhores resultados".
No entanto, Luís Costa avisa que, tendo em conta situação atual, "em que nós temos doentes em lista de espera nalguns dos centros oncológicos, nomeadamente para cirurgia, não se deve encerrar sem garantir que estes doentes são devidamente recebidos noutro centro".
"Acho que sim, que deve ser procurada uma qualidade cirúrgica que depende também do volume e depende da experiência. Mas para que isso seja feito, tem de se garantir um acesso a todos os doentes. Entre uma cirurgia que é feita num centro que se calhar tem só 80 casos por ano, mas que haja pessoas que têm experiência prévia ter trabalhado em centros com mais volume, mas que neste momento consigam fazer a cirurgia a tempo e horas versus esses mesmos doentes irem para outros centros onde estão a esperar meses para intervenção cirúrgica. Não está correto", considera.
"O que eu questiono é como é que nós vamos garantir se para as pessoas que estão a ser referenciadas para esses centros não estão a ser respeitados os tempos adequados? Como é que nós vamos garantir que as pessoas que estavam a ser atendidas noutros centros vão ou não vão engrossar a lista das questões espera?", acrescenta, ainda
Já Vítor Rodrigues, do núcleo regional do Centro da Liga Portuguesa contra o Cancro, afirma que subscreve à medida "do ponto de vista teórico", contudo partilha as preocupações face à mesma, pois o SNS "está com problemas e provavelmente na prática o que vamos ter pessoas a demorar mais tempo a ser tratadas".
"A direção executiva tomou esta decisão vai ter de dar garantias e vai ter de dar a capacidade de todos os hospitais receberem as pessoas e que elas sejam tratadas no mais curto espaço de tempo, que é uma situação que todos nós sabemos e é público que já não acontece neste momento", aponta.
"Não sei até que ponto, eventualmente, nalgumas zonas Juntando hospitais, nomeadamente em zonas do interior, por exemplo num deles, não se poderia fazer um serviço dedicado com experiência, com competência e que pudesse responder a estes casos", sugere, igualmente.