Caso Huawei: altos quadros da Saúde colocam cargos à disposição
28-08-2017 - 17:22

Seis funcionários do Governo viajaram à China com "tudo" pago. Segundo o "Eco", quem custeou a viagem foi a NOS.

Os altos quadros dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), entre os quais o presidente, que viajaram até à China a convite de uma empresa parceira da Huawei colocaram esta segunda-feira os seus lugares à disposição.

A notícia foi avançada pelo "Expresso" esta segunda-feira e confirmada pelo Ministério da Saúde. Em comunicado, a tutela informa que os dirigentes colocaram o seu lugar à disposição em “diversas reuniões”.

O ministério “regista como positiva esta atitude”, “na convicção de que o exercício de funções públicas exige obrigações especiais de transparência, rigor comportamental e observância dos princípios éticos”, mas entende que é preciso esperar pelas conclusões da intervenção pedida à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), que permitirão uma “tomada de decisão definitiva, justa e fundamentada”.

O comunicado do gabinete do ministro Adalberto Campos Fernandes refere que “os factos ocorridos em Junho de 2015 enquadram aspectos que carecem de clarificação ao nível do seu contexto ético, jurídico e institucional”, o que motivou o “pedido de intervenção urgente” da IGAS.

O “Expresso” avançou este sábado que uma parceira da multinacional chinesa Huawei pagou os custos das viagens de avião e da estada na China a cinco funcionários do Ministério da Saúde e um das Finanças em 2015.

O Eco avança esta segunda-feira que a empresa parceira da Huawei que convidou e pagou as viagens a altos cargos do Estado à China foi a NOS.

IGAS e AT investigam

O Ministério da Saúde pediu à IGAS para averiguar os factos e apurar "eventuais responsabilidades".

A Autoridade Tributária (AT) está também a conduzir um inquérito para "verificação das circunstâncias que levaram à autorização e aceitação da viagem em questão".

De acordo com o "Expresso", uma viagem realizou-se entre 2 e 6 e de Junho de 2015, envolvendo cinco dirigentes do Ministério da Saúde. Em Fevereiro do mesmo ano, outro destacado funcionário do Estado, Carlos Santos, da AT, viajou para a China "com tudo pago".

"Tudo, mesmo tudo"

O "Expresso" cita uma fonte ligada ao processo, segundo a qual a empresa pagou "tudo, mesmo tudo", incluindo a alimentação.

A viagem incluiu uma visita ao Hospital de Zheng Zhou para observar como funciona o sistema de telemedicina da unidade e outra à sede da tecnológica em Shenzhen, perto de Hong Kong.

"Os altos quadros dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) que viajaram a convite são Artur Trindade Mimoso, vogal executivo do conselho de administração, Nuno Lucas, director de sistemas de informação, Ana Maurício, directora de comunicação, Rui Gomes, director de sistemas de informação e Rute Belchior, directora de compras", lê-se na notícia do "Expresso".

Os SPMS confirmaram ao jornal a deslocação "suportada pela entidade que organizou a visita", justificando-a com "objectivos prioritários" de adquirir e partilhar conhecimentos sobre "os recursos, modelos e estratégias diferenciadoras utilizadas no âmbito da telemedicina".

O jornal acrescenta que Carlos Santos, chefe de equipa multidisciplinar de 2.º nível do Núcleo de Sistemas Distribuídos, da AT, foi convidado para participar numa cimeira de tecnologia no quartel-general da Huawei, de 9 a 14 de Fevereiro de 2015, estando em curso um inquérito interno para "o mais completo apuramento dos factos".