Um novo estudo indica que um em cada dez trabalhadores é pobre.
Os dados são de 2020, altura em que 12,1% dos empregados em Portugal eram pobres. Em 2021, dados preliminares apontam apenas para uma ligeira melhoria (10,3%).
São conclusões do estudo “Portugal, Balanço Social 2022”, do centro de conhecimento Nova School of Business and Economics (SBE) for Policy, uma parceria com a Fundação “la Caixa”, o BPI e a faculdade Nova SBE.
Segundo este trabalho, em 2020, Portugal era o oitavo país da União Europeia com maior taxa de risco pobreza ou exclusão social. Os grupos mais vulneráveis eram as mulheres (duas em cada dez), as pessoas com escolaridade até ao ensino básico e os desempregados (quatro em cada dez).
Ainda em 2020, 18,4% dos residentes eram pobres, ou seja, 1,9 milhões de pessoas. Uma em cada cinco crianças era pobre, assim como um em cada cinco idosos.
Um ano depois, em 2021, a taxa de privação material e social é de 13,5% (mais 0,8 pontos percentuais do que em 2020). São famílias com dificuldade em usufruir de pelo menos uma semana de férias fora de casa, fazer face a despesas inesperadas, ou substituir móveis usados.
Quando comparadas com a família média, as famílias pobres em 2021 tinham piores condições habitacionais (18,8% viviam em alojamentos sobrelotados), uma saúde pior e mais dificuldade em aceder a cuidados de saúde (19,3% não conseguiram uma consulta ou tratamento dentário em pelo menos uma ocasião).
O impacto dos apoios
As transferências sociais, como os apoios em situação de desemprego, invalidez ou velhice, fazem diferença.
A taxa de risco de pobreza seria 2,4 vezes maior na ausência do Estado Social: “a rendimentos de mercado a taxa de pobreza seria de 43,5%, o que compara com 18,4% se considerarmos o rendimento disponível”, diz o estudo.
Em 2021, a taxa de risco de pobreza após transferências sociais é de 16,4%, dois pontos percentuais abaixo da de 2020, segundo os dados preliminares.
O coeficiente de Gini, em que zero representa a completa igualdade, passa de 38, na ausência de transferências, para 33, quando estas existem, em 2020. Em 2021, fica nos 32.
No entanto, o acesso a prestações sociais para a habitação foi inferior na população pobre (9,5%), face à população total, que apresenta um acesso de 9,9%. São apoios do Estado para garantir habitação digna, como o subsídio de renda ou o apoio à compra de casa.
Encargos inflacionados
Em 2020, mais de 8 em cada 10 pessoas pobres afirmava ter dificuldade em pagar as despesas usuais (6 em cada 10 na população geral).
Um ano depois, a insegurança alimentar chegava a 20,6% dos agregados pobres, que manifestavam preocupação de não ter comida suficiente. De acordo com este trabalho, 13,1% das pessoas comeram menos do que deviam, 2,4% sentiram fome não satisfeita por falta de dinheiro ou outros meios.
Em 2021, os residentes gastavam, em média, 20,5% do rendimento disponível em custos com a habitação. Para os agregados pobres, esta taxa de esforço sobe para 38,4%. Nesse ano, 34,4% dos agregados pobres tinham encargos excessivos com a habitação (10,1% para a população em geral).