Há mais de cem anos que as solenidades da Semana Santa se cumprem em Pedrógão Grande e para Antonino Marcelo, que faz parte do conselho económico da igreja Matriz, o tesoureiro, no fundo, e um dos organizadores das solenidades, este “deve ser dos poucos sítios onde fazem o Enterro do Senhor”, uma procissão do século XVII que começou em Itália e “que cá só deve existir também em Braga”.
A procissão do Enterro do Senhor decorre esta Sexta-feira Santa pelas ruas junto à igreja Matriz e o maior receio dos pedroguenses é a chuva, que pode estragar tudo, acontecendo como na Quinta-Feira Santa em que a também tradicional Procissão dos Cotos foi cancelada, logo após o Ofício da Paixão do Senhor.
Quando está bom tempo – que não é o caso, pois o frio e a chuva que se sente em Pedrógão Grande já se estranha neste final de Março – a Semana Santa “mete muita gente”, explica Antonino Marcelo.
“Se estiver bom tempo chega a meter milhares de pessoas, porque aqui à volta não há muito disto, só lá para o norte.”
Durante a procissão do Enterro do Senhor “tudo é feito como um teatro”, explica este sexagenário, “há uma reconstituição da morte do Senhor, há muito pouca gente que faça, porque são imagens vivas” que vão percorrendo as ruas. No caso de chover há sempre alternativa, faz-se tudo dentro de casa, ou seja, faz-se na igreja Matriz tudo o que estiver previsto para se fazer na rua, o que deixou vários dos organizadores a pensar em voz alta nas mudanças que será necessário fazer ao espaço para “caber toda a gente”.
Esta Sexta-Feira Santa não há de acabar sem outra Procissão, a do Silêncio, em que qualquer um que se atreva a abrir a boca para falar é repreendido, garante Antonino Marcelo. Se mais uma vez a chuva não aparecer durante a Procissão do Silêncio “ouve-se até o batimento do aliviar dos andores e das baquetas”, é “o máximo silêncio possível”, diz o tesoureiro.
Esta é a maior solenidade do concelho e vai-se mantendo a tradição. Questionado sobre se os incêndios de junho passado tornam esta Semana Santa mais especial ainda, Antonino Marcelo corta a eito e diz que “não há especialidade nenhuma”, reconhecendo que “as pessoas ainda estão um bocado feridas, ainda sentem o que passaram com os incêndios”, mas que vão tentando ter alegria, porque, acrescenta o tesoureiro, “um bom cristão tem de ser alegre”.
Antonino falou com a Renascença nesta Quinta-Feira Santa, antes mesmo da missa da Ceia do Senhor e do Lava Pés na Igreja Matriz e foi dizendo que “mesmo embora tenha havido essa desgraça vai-se tentando recuperar a alegria e a vontade de viver” e que em Pedrógão Grande o que se tem tentado fazer é “incutir nas pessoas para que não desanimem”.
No Sábado está prevista a também habitual Vigília Pascal, com as solenidades a terminarem no Domingo de Páscoa, com a Procissão da Ressurreição do Senhor, seguida de uma missa na Igreja Matriz.