O antigo eurodeputado Francisco Assis lembra Bento XVI como um dos “mais importantes teólogos e pensadores europeus das últimas decadas”, referindo que a sua importância vai “muito para além” do seu período como Papa.
À Renascença, o socialista e licenciado em Filosofia lembra que Joseph Ratzinger esteve “longe de ser um conservador” e que sempre foi a “antítese do populismo”.
Assis recorda em particular dois momentos importantes que o definiram: o primeiro, um debate com outro filósofo alemão contemporâneo, Jürgen Habermas, em Munique, quando era ainda cardeal, em janeiro de 2004. Neste, viu-se a sua “densidade filósofa e a sua abertura de diálogo”.
O outro momento é de um discurso de quando já era Papa, em setembro de 2006, na universidade de Ratisbona, também na Alemanha, que na altura gerou muita polémica e foi classificado pela comunicação social internacional como anti-islâmico.
“Um discurso absolutamente notável, e porventura essa referência ao mundo islâmico revelava que o grande intelectual que Ratzinger era não se traduzia num grande sentido diplomático como Papa”, disse, considerando que o texto em si é de “afirmação da importância da razão”.
Para Francisco Assis, a questão dos abusos sexuais na Igreja Católica foi um “mal entendido” durante o tempo em que Bento XVI foi Papa pois foi este que abriu o tema, acabando por ser um dos motivos da sua resignação, o de não se sentir com a força e saúde necessárias para enfrentar estes problemas - uma “atitude extraordinária”, diz.
Joseph Ratzinger nasceu em 1927 e foi Papa entre 2005 e 2013, quando abdicou e passou a ser emérito da diocese de Roma.
O funeral de Bento XVI será na quinta-feira, na Praça de São Pedro, no Vaticano, com o Papa Francisco a presidir à cerimónia. O corpo estará na Basílica de São Pedro, a partir de segunda-feira, para que os fiéis se possam despedir do Papa emérito.