Ricardo Bexiga, antigo administrador da CP, admite que Portugal “tem um problema na ferrovia” e defende a entrada dos privados, porque "o financiamento público é insuficiente".
“Os ciclos de investimento são muito longos, a aquisição de material circulante novo, porque obedece a regras de contratação pública e porque implica investimentos muito vultuosos, são complexos e neste momento a empresa está a gerir um parque de material circulante muito antigo, com deficiências em algumas áreas, designadamente no funcionamento do ar-condicionado”, sublinha o gestor, em declarações à Renascença.
Ricardo Bexiga recorda que os investimentos foram “interrompidos” com a intervenção da troika em Portugal e reconhece que o Governo está agora a implementar um plano de investimento no setor da ferrovia e na renovação do material circulante e da infraestrutura, ao mesmo tempo que anuncia a aposta na alta velocidade.
“Algum do nosso equipamento circulante está obsoleto, mas foi feita uma nova aposta nas capacidades de engenharia da EMEF e, neste momento, está a ser feito um esforço muito grande no sentido de manter as condições de funcionamento desse material circulante. Material novo demora anos a ser encomendado e construído”, afirma o antigo administrador da CP, para quem “estamos a recuperar o tempo perdido”.
Ricardo Bexiga considera que os privados devem ser chamados a entrar no setor ferroviário.
“Os investimentos no setor ferroviário são de tal forma avultados que a meu ver o financiamento público é insuficiente para suprir as necessidades urgentes que temos do ponto de vista de infraestrutura e material circulante. O mercado está liberalizado, portanto, o problema tem mais a ver com empresas privadas terem interesse em apostarem no setor ferroviário”, sublinha o antigo administrador da CP, em entrevista à Renascença.
No último fim de semana, os sistemas de ar-condicionado de dois comboios Alfa Pendular, com destino a Braga e ao Porto, deixaram de funcionar devido às altas temperaturas, uma situação que aconteceu em anos anteriores.
Contactada pela Renascença, a CP adianta que as avarias ocorridas, na sexta-feira, nos dois Alfas Pendulares já “estão resolvidas”, remetendo para mais tarde outras informações. Nomeadamente se mantém o apelo para os passageiros optarem pelas horas de menos calor para viajarem.