Há uma portuguesa a bordo de um veleiro onde um dos passageiros testou positivo à Covid-19. O barco está atracado na marina de Atenas, mas sem condições para as 10 pessoas que permanecem a bordo cumprirem o necessário isolamento profilático.
A história é contada à Renascença por Beatriz Prioste, a portuguesa que embarcou nesta viagem de férias de sonho. A participação estava condicionada a um teste negativo e todos cumpriam os requisitos.
“Muito provavelmente, este caso terá surgido de um período de incubação mais longo do que as 48 horas que exige o teste negativo necessário para iniciar a viagem”, diz Beatriz.
Partiram da Marina de Alimos, na Grécia, no sábado, e foi logo nesse dia que os primeiros sintomas apareceram numa passageira. Foram feitos três testes a bordo, de saliva, e todos deram negativo. Mas, face à insistência dos sintomas (dor de garganta e alguma febre), decidiram fazer um teste antigénio e, depois, um PCR – ambos com resultado positivo e realizados já na segunda-feira.
Entretanto, ainda conseguiram visitar duas ilhas, tendo os testes conclusivos sido feitos em Poros. E desde então, a pessoa infetada tem estado em isolamento.
A tripulação entrou em contacto com as autoridades portuárias gregas. “Foi dada a indicação que deixássemos o porto de Poros e que atracássemos ao largo, para podermos estar mais isolados e não estarmos em contacto tão próximo com outras embarcações”, conta Beatriz Prioste.
Assim fizeram, mas dois dias depois chegou outra indicação: “mandaram-nos regressar a Atenas, porque supostamente iríamos ser encaminhados para hotéis para fazer isolamento profilático, porém chegados a Atenas não havia ninguém para nos receber ou dar alguma informação”.
“Portanto, estamos atracados numa marina, sem poder pisar terra, mas também sem condições para ficar a bordo, porque uma coisa é estar ao largo, onde temos possibilidade de sair e fazer coisas na água – enquanto uns estão na água outros estão no barco – outra coisa é estar só a bordo, onde não existe sombra suficiente para 10 pessoas, muito menos cumprindo o distanciamento, e as temperaturas às 8h00 são de 30 graus”, revela a portuguesa.
Dentro do barco não há ar condicionado nem gelo e as bebidas estão quentes. Mas é o que há. Quanto à alimentação, têm recorrido às aplicações de entregas.
“Nunca estivemos muito longe de terra, pelo que conseguimos que nos fossem entregues refeições, muitas delas numa lancha. Estando na marina já conseguimos jantar através de uma aplicação de entrega de refeições e é assim que temos feito. Não temos muitas alternativas”, diz.
Beatriz já contactou as autoridades diplomáticas portuguesas a pedir ajuda. Na quarta-feira à noite, recebeu uma resposta da secção consular da embaixada de Portugal em Atenas, dizendo que nesta quinta-feira iriam contactar as autoridades gregas, de modo a acelerar o processo.
A bordo estão uma francesa, três norte-americanas, três britânicos, uma neozelandesa e uma espanhola com dupla nacionalidade chinesa, além da portuguesa Beatriz Prioste.
A tripulação tem estado em contacto com as autoridades portuárias, mas o que parece é que as várias entidades competentes, nomeadamente o Ministério grego da Saúde e os portos, não comunicam entre si.
“O que me surpreende é que não exista um protocolo que preveja uma situação destas, tratando-se a Grécia de um destino turístico. Do que percebi, isto não deve ter acontecido muitas vezes, porque o turismo na Grécia abriu há pouco tempo e não estão a conseguir a dar uma resposta célere. Parece que entre as várias entidades competentes não comunicam bem entre si”, considera Beatriz.
Diplomacia portuguesa em contactos com Atenas
Questionado pela Renascença, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) adianta que as autoridades gregas já foram contactadas para que a cidadão portuguesa possa ser transferida para um hotel.
“A Embaixada de Portugal em Atenas contactou já as autoridades gregas, designadamente a Proteção Civil e a Unidade de Gestão de Crises do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tendo em vista a apresentação formal de um pedido para que a cidadã nacional que atualmente cumpre isolamento profilático num veleiro atracado na marina de Atenas possa cumprir o restante período desse isolamento numa das unidades hoteleiras designadas pelas autoridades daquele país para o efeito”, refere o MNE.
A diplomacia portuguesa adianta as necessidades básicas de Beatriz Prioste estão asseguradas.
“Os serviços consulares da Embaixada puderam já assegurar que está atualmente garantida resposta às necessidades essenciais da cidadã nacional. Cumpre ainda notar que esta é uma questão de saúde pública e, como tal, terão de ser seguidas as recomendações das autoridades gregas”, sublinha a nota do MNE.
[notícia atualizada às 16h47 - com reação do Ministério dos Negócios Estrangeiros]