O ministro da Defesa afirma que os 35 militares portugueses em missão no Iraque estão "tranquilos e salvaguardados", aguardando o retomar das ações de formação suspensas, e defendeu que é prematuro falar em retirada.
Em declarações à agência Lusa, João Gomes Cravinho disse que está "em contacto permanente" com os militares no terreno e que a informação que tem recebido nos últimos dias sobre a situação no Iraque, quer da capital, Bagdad, quer da base militar de Besmayah, indica que os militares "estão bem e que não há nenhum perigo imediato".
"Temos os nossos militares perfeitamente tranquilos e salvaguardados. Besmayah está a 40 quilómetros de Bagdad e é um local resguardado. Eles estão bem e não há nenhum tipo de perigo imediato", declarou.
Questionado pela Lusa, o ministro da Defesa confirmou que as ações de formação e treino ministradas pelos portugueses na base militar de Besmayah estão suspensas e disse o Governo mantém uma posição de "prudência", aguardando os desenvolvimentos da situação.
A NATO e a coligação internacional liderada pelos EUA de combate ao "Daesh" (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico), designada "Inherent Resolve", anunciaram, respetivamente no sábado e no domingo, a suspensão das atividades de formação e treino, após a morte do general iraniano Qassem Soleimani num ataque aéreo dos EUA contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdad, que o Pentágono declarou ter sido ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos.
Para já, considerou o ministro da Defesa, é prematuro falar em retirar os militares portugueses da missão e, defendeu, "tem de haver um diálogo muito estreito ao longo dos próximos dias, na próxima semana ou duas, com as autoridades do Iraque para que haja o necessário esclarecimento daquilo que é a vontade das autoridades iraquianas".
Para Gomes Cravinho, só faz sentido reavaliar a manutenção do contingente português "se se prolongar [a suspensão da formação]".
"Naturalmente que o plano de formação fica um bocadinho prejudicado se não dão formação uma ou duas semanas, mas mantém toda a lógica. Se se prolongar (a suspensão) teria de se equacionar se faz sentido manter lá os nossos militares", disse.
Para o ministro português, "é evidente que, se não houver condições para dar formação, então a missão deles deixa de ter utilidade".
Contudo, a expectativa do governo é que "essa atividade volte a ser a atividade principal" dos militares portugueses no Iraque, acrescentou.
Os 34 militares atualmente integrados na coligação internacional, que junta mais de 70 países, dos quais cerca de 40 com tropas no terreno, estão afetos em exclusivo ao treino e formação das forças iraquianas.
Na missão da NATO, iniciada em 2018 e também de formação e treino, está, desde dezembro passado, uma major portuguesa, colocada igualmente na base de Besmayah.
"Portugal está num contexto de coligação internacional. Agora, somos autónomos e temos o nosso próprio poder de decisão, mas trabalhamos em estreita coordenação com os nossos aliados", frisou.
O ministro da Defesa adiantou que falou no fim de semana passado com a sua homóloga espanhola, já que o contingente português está integrado no de Espanha, que tem 500 militares, no campo de treino "Grã Capitan".
"A posição dela e a do Governo de Espanha é a que nós temos, que é uma posição de prudência e de dar tempo ao tempo para que haja um necessário esclarecimento da situação junto dos iraquianos e junto dos aliados", disse.
João Gomes Cravinho sublinhou que "não tem havido contestação" das autoridades iraquianas em relação às atividades de formação" e que o parlamento iraquiano "considerou que se devem manter as atividades de formação" dos militares.
A decisão de integrar a missão da coligação internacional no Iraque teve parecer favorável do Conselho Superior de Defesa Nacional em dezembro de 2014, face às "preocupações" ao nível da segurança internacional.
Ao todo, em 10 contingentes nacionais naquele país, já estiveram empenhados 330 militares, desde maio de 2015.
A formação e o treino das forças iraquianas nas áreas da liderança, armamento, tiro, combate em áreas edificadas, planeamento de operações militares e inativação de engenhos explosivos são as missões dos militares portugueses.
Com uma área de 308 quilómetros quadrados, o campo Grã Capitan, comandando pelo contingente espanhol, tem 22 carreiras de tiro e instalações de treino em várias áreas e especialidades, na base de Besmayah, que o primeiro-ministro português, António Costa, visitou no passado dia 18 de dezembro.
Na altura, o primeiro-ministro elogiou o contributo dos militares portugueses em missões externas para o prestígio internacional do país e para a segurança coletiva, considerando vital que as ameaças sejam combatidas nos seus focos de origem.