Uma nova legislatura é sempre sinónimo de novos deputados na Assembleia da República. E para alguns destes representantes políticos – em particular, aqueles que não são de ou não trabalhavam em Lisboa – também de procurar casa.
Durante as próximas semanas, muitos dos novos deputados vão optar por ficar em hotéis. Mas, mais tarde, quando o Parlamento estiver já a funcionar a todo o vapor, a maioria irá procurar casas para arrendar (e em alguns casos partilhar com outros colegas de bancada).
Acontece que, tendo em conta o estado do mercado da habitação em Portugal, tal pode ser um desafio. Em declarações à Renascença, o testemunho de Jorge Pinto, deputado do Livre, eleito pelo círculo do Porto, atesta o problema.
Ao fim de 11 anos, o deputado do Livre vai abandonar Bruxelas. Na Bélgica, deixa – em suspenso, por via de uma licença sem vencimento – um trabalho como funcionário europeu na área do ambiente. Para fins legais, a morada que irá apresentar no Parlamento é da casa dos pais, em Amarante. “É onde passarei o tempo que não estiver em Lisboa.”
Nos últimos dias, a experiência de procurar casa em Lisboa tem sido a confirmação “daquilo que todos sabemos”, a existência de “uma grande crise de habitação a preço acessível e de qualidade”, diz Jorge Pinto.
O deputado tentou encontrar uma casa para arrendar perto da Assembleia da República, mas não foi capaz de encontrar um T2, com o mínimo de condições, a menos de 1500 euros por mês. E foi ainda surpreendido por uma prática: senhorios a entrevistarem inquilinos.
Num anúncio, “responderam-me dizendo algo como: já há uma oferta, mas agora essa pessoa ainda vai ter de discutir com o proprietário para ver se o aceita ou não”, conta.
Para encontrar um teto a um preço acessível, Jorge recorreu a pessoas conhecidas. O novo deputado do Livre conversou com a Renascença na segunda-feira à tarde, antes de ir visitar dois apartamentos – ambos distantes do Parlamento.
“Não são com certeza os deputados as principais vítimas do custo da habitação, mas se calhar [esta experiência] pode servir também de abrir de olhos àqueles deputados que chegam agora a Lisboa e que acham que não há um problema de habitação. Ou que têm propostas de solução que se calhar não são aquelas que são necessárias atendendo à dimensão e à gravidade do problema”, afirma.
Durante a próxima legislatura, que arranca esta terça-feira com o seu primeiro plenário, Jorge Pinto tem a ambição de que o Livre possa “continuar a desenvolver o trabalho construtivo” dos últimos dois anos. “Dizer às pessoas que é possível pedir mais, ter mais, até exigir mais do que o país pode e deve ser.”
Num Parlamento sem uma maioria clara tanto à esquerda como à direita, contudo, será difícil pensar a longo-prazo. Ou assinar um contrato nesse sentido.
Pelo que a Renascença apurou, alguns dos novos deputados antecipam uma legislatura curta e procuram não se comprometer com contratos de arrendamento antes de setembro – momento de arranque do debate do Orçamento do Estado para 2025, a primeira prova de fogo no caminho de Luís Montenegro.